Meu coração pedia paz, e eu
seguia procurando, minha fé pedia conhecimento e eu seguia perguntando... Houve
uma calmaria em minha vida, mas eu me questionava com a vida que eu levava,
sentia às vezes medo, vergonha, insegurança quando alguém perguntava que
religião eu frequentava, às vezes eu dizia “católica” e algumas vezes eu dizia
“espírita” e assim eu seguia, qualquer resposta que eu desse eu tinha sempre
alguma repulsa e algumas vezes eu ouvia criticas, acabava sempre triste e
aborrecida. Era uma coisa muito, muito chata e por muito tempo vivi querendo
ficar bem com um ou com outro e eu ruim. Mas eu contornava da melhor
maneira possível às situações e via o quanto o ser humano é egoísta quando ele
não tem preparação para aceitar as coisas como são. Não! É assim até hoje, se
você estiver fora do sistema o azar é teu.
Minha vida seguia e eu tinha que
trabalhar muito para ajudar meu marido, pois, a família continuava grande e as
necessidades aumentando, nunca culpei governos, parentes, vida ou Deus ou o
diabo por meus problemas principalmente financeiros, sempre procurei resolver
da melhor forma possível. Nunca culpei também religião e foi através do
sofrimento e com ajuda dos esclarecimentos espíritas que aprendi que colhemos o
que plantamos, houve uma fase que eu fui para o “fundo do poço” e lá eu vivi um
verdadeiro inferno construído por mim mesma. Na casa espírita eu conheci duas
pessoas maravilhosas que fizeram tudo por mim, no sentido espiritual,
ajudaram-me com cursos e esclarecimentos, uma delas uma vez pergunto: - Você
quer conhecer de verdade quem é o verdadeiro culpado por toda a sua dor e
sofrimento? Ou você quer se omitir diante desse fato e fazer de conta que Deus
ou o demônio são os culpados? Lógico que eu não tive medo de querer enfrentar o
inimigo de perto. E o inimigo estava tão perto, mas tão perto que eu não tinha
campo de visão. O inimigo era eu mesma. Fui ensinada a trabalhar minha pessoa
“Orai e vigiai” primeira regra. Nunca mais esqueci. Pode até parecer que eu era
uma pessoa terrível, não assim no sentido maligno, sempre procurei ser honesta
e sempre preservei valores, a visão de religião e suas
consequências, é que me faltava. Eu ia à igreja eu ia a casa espírita, mas
não colocava muito em prática, ouvia, via, enfim estava fazendo igual
à música “não adianta ir à igreja e fazer tudo errado, você quer as coisa de
frente, olhando de lado”, era assim.
Eu tinha ânsia de viver, e logo,
parecia que eu iria morrer em seguida. Mas a vida me ensinou juntamente com os
ensinamentos espíritas e porque não até os católicos. Um dia recebi meu irmão
em casa porque ele estava muito mau de saúde, o que me deixou apreensiva e sem
saber por que ele escolheu ficar comigo, já que ele frequentava mais a casa de
minha outra irmã que mora bem ao lado de mim. Posso contar nos dedos às vezes
que ele foi a minha casa e posso garantir que não enche uma mão. Mas foi assim.
Ele chegou e pediu ajuda, eu ajudei e tenho certeza hoje em dia que ali
começava meu aprendizado em caridade, amor sem olhar a quem, " Deus entre linhas",
dor. Que nada é por acaso, que não existe coincidência. Que Deus é
misericordioso e que até na dor Ele estar presente. Fiz minha parte e mais uma
vez vi a morte de perto e com ela a dor da perda, meu irmão mesmo que não frequentasse
muito minha casa ele estava presente em minha vida desde muito cedo, com ele
aprendi amar a leitura, filmes e música. Chorei e mais uma vez o tempo sarou as
feridas, até hoje me lembro dele, principalmente quando leio, escuto uma música
ou vejo um filme que eu sei que ele adoraria estar ali. Ele era muito
inteligente um autodidata em muitos assuntos. Saudades! E sempre estar comigo.
Parece que em
minha vida, todas as pessoas que mais me ensinaram foram embora. O tempo passou
e com ele o vento soprou para longe as dores. Mas a vida continuava pregando
peças e mais uma vez eu perdi. Perdi pessoas amadas, queridas, que me ensinaram
a ver o mundo em uma visão totalmente diferente que eu via antes. Sofri, chorei
e por fim sem saber como seria minha vida sem elas eu reneguei tudo. Pronto! Lá
estava eu novamente perdida. Sem vontade de viver. Eu não acreditava mais em
vida após a morte, que tudo é uma ilusão e nada resta além do pó. Talvez eu
pensasse assim porque fui pega de surpresa, uma das pessoas que eu tinha
perdido era a pessoa que mais me ensinou a conhecer a mim mesma e conhecer um
Deus de amor, paz, disse-me que nós é que nos punimos que temos livre arbitro.
Como eu ia seguir se eu sabia que as lições não tinham acabado? Fiquei por um
bom tempo sem ir à igreja e a casa espírita. Fiquei errante. Mas minha fé eu
sentia dentro de mim, eu sabia que não deveria ter aquela atitude, mas eu
parecia criança tola quando sabe que não deve fazer algo de errado e mesmo
assim pratica. Eu e uma dessas pessoas que desencarnou, estávamos tão ligados em
nossos estudos que às vezes brigávamos (mas eu) no sentido de questionamentos e
respostas. No nosso último encontro “ela” pediu-me um abraço e eu neguei,
estava chateada e tinha medo, pois através dos estudos de um curso especifico
descobri que tínhamos um laço do passado e que eu tinha sido vitima “dela”,
estava confusa. E agora? Nossas vidas estavam separadas, chorei, sofri muito,
queria morrer e ir ao encontro “dela” e dar aquele abraço negado. Aos poucos
fui procurando sair daquele inferno em que eu me encontrava, eu tinha todas as
ferramentas em minhas mãos, eu tinha algum conhecimento, eu sabia como fazer e
como não fazer para agravar mais aquela situação. Parei. Fiquei certo tempo
quieta. Viva, o suficiente para a vida material que eu tinha. Aos poucos voltei
a rezar, rezava as orações ensinadas e aprendidas na igreja católica,
principalmente a oração Pai-Nosso a única ensinada por Jesus. E orava também as
orações que estão no livro do Evangelho segundo o Espiritismo. Nas casas espíritas não se ensina nenhuma oração, apenas aprendemos a orar com as nossas
palavras evocando sempre Deus Pai e Jesus, pois assim aprendemos a linguagem do
amor.
A caminhada seguiu e eu mesmo sem ir à igreja e a casa espírita eu sentia que a dor, o arrependimento estavam concretizados em mim. Um dia voltei, para as duas casas de orações.
A caminhada seguiu e eu mesmo sem ir à igreja e a casa espírita eu sentia que a dor, o arrependimento estavam concretizados em mim. Um dia voltei, para as duas casas de orações.
Tinha feito às
pazes comigo mesma, aprendi através da dor tudo que hoje procuro colocar em
pratica comigo e meus semelhantes. Foi preciso muitas idas e vindas, muitas
orações e reparações, eu estava ficando alerta, não queria mais tá brigando com
ninguém, estava cansada daquilo tudo. Voltei à igreja e agora já ouvia o Sermão
do padre de outra forma, ia casa espírita (agora sem fazer mais cursos) para
ouvir as palestras e sentia paz espiritual. Mas digo, nunca mais
aquela casa espirita foi à mesma pra mim. Meus filhos choraram e para eles não
perderam só um instrutor foi muito mais do que isso. Sei que isso parece
idiotice já que temos o conhecimento de que um dia ainda vamos nos encontrar. E
claro que a casa espírita é muito além daquela pessoa. Vai passar, eu sei! Ainda carrego uma certa dor, que afina aos poucos.
Mas a minha
história com as religiões e fé ainda não tinha acabado no sentido de firmar meu
credo. Eu já estava numa fase de começo de firmação de fé, não sentia mais vergonha
de demonstrar que eu tinha mais de uma religião e também não tinha mais medo de
sentir constrangimento diante de alguém que jogasse na minha cara que eu era
uma herege (ouvi isso uma vez de alguém). Assim, comecei a colocar em pratica
os ensinamentos do Senhor Jesus, através da religião católica e do espiritismo
(mesmos que muitos não acreditem no espiritismo praticamos os ensinamentos de
Jesus). Aqui, ali, acolá eu encontrava (e ainda encontro) pessoas que me
criticavam e não se conformavam ou simplesmente não respeitavam minha escolha,
minha fé. Fazer o quê? Eu seguia. Um dia fui surpreendida pela a pessoa que um
dia me mostrou o caminho da casa espírita. Ela havia mudado de religião, ela é
uma pessoa que passou por muitas dificuldades matérias, espirituais e
sentimentais, era como eu no sentido religioso, frequentava a igreja e o
espiritismo. Enfim, ela mais uma vez tinha mudado e dessa vez segundo ela para
a religião certa, a verdadeira, a religião que salva, pois através dela a
pessoa vive o verdadeiro Deus e Jesus. Até ai tudo bem, nada demais, cada
religião tem os seus preceitos e cada pessoa vive aquilo que ela acha que é
melhor pra ela. Mas daí a pessoa simplesmente chegar na tua cara e dizer que
daquele dia em diante ela só vai querer ter amizades com pessoas que falem em
Jesus e frequente a sua religião. Nossa! Fiquei abestalhada (como dizemos nós
amazonense) e o pior foi quando fui a casa dela para conversarmos melhor e vir
de perto o que realmente estava acontecendo, fui surpreendida novamente, com uma
tentativa de exorcismo e lavagem cerebral para eu mudar minhas convicções
religiosas. Aí foi demais! Ouvi, até participei do que eu achava que era um
absurdo e sai da casa dela muito, muito triste, ferida na alma, no coração,
humilhada... Totalmente sem saber o que realmente tinha acontecido ali, era um
pesadelo. E o pior por que eu participei daquela presepada. Onde foram parar os trinta e tantos anos de amizade? Quem era agora aquela pessoa? Que dor,
decepção, perda, ganho... Aquela pessoa tinha sofrido? E eu? Será que eu mais uma vez
estava perdendo alguém que eu tanto amava? Até hoje não sei se perdi ou se
ganhei. Segundo meu marido que viu minha tristeza e decepção, eu não tinha
perdido uma amiga, pois na verdade ela nunca teria sido uma para mim. Amigos
respeitam as escolhas de seus amigos e se eles não fazem partem ou não apoiam
suas escolhas eles pelos menos devem respeitar. Fiquei em estado de choque,
ainda tivemos algumas conversas, mas percebi que mesmo que eu respeitasse suas
escolhas, seus pensamentos e sua nova trajetória rumo a sua salvação eu não
tinha mais lugar em sua vida.
Depois de
algum tempo percebi o porquê daquilo tudo, eu representava um passado do qual
ela não queria mais lembrar. Eu era um pecado, uma lembrança contaminada, e
como ela não me conseguira “salvar” eu tinha que ser descartada de sua nova
vida. Tudo bem, cada um segue seus caminhos e eu não faço a questão de
atrapalhar ninguém. Fiquei na minha e percebi que naquela confusão toda tinha
algo de verdade, pelo menos para mim, eu tinha consolidado minha fé, eu agora
sabia realmente o que eu queria e nunca mais deixaria alguém dizer que eu
estava errada. Ora, afinal o que é a verdade? Quem é o dono dela? Só sei dizer
que não me deixei mais me abater e segui. Aprendi no espiritismo que a Salvação é pessoal, individual.
Nunca, nunca
mesmo fiquei com raiva dela, sempre vou amá-la e torcer para que ela seja muito feliz, mas evitei contato eu sabia que eu seria sempre
convocada a mudar de religião e blá, blá, blá... Hoje nos falamos quando nos
encontramos nos corredores dos shops, dos hospitais, da vida... Sei que aquela
fase de deslumbramento e fanatismo dela passou, já houve oportunidade de
conversarmos sobre o assunto, mas eu respeitei e calei-me diante de suas
descobertas. Não espero pedidos de desculpas, até porque acredito que não tem o que desculpar, mas acredito que o silêncio é a melhor forma para aliviar a dor da
decepção, da perda e da descoberta que nem sempre somos donos do que achamos
que é verdade. Deixa quieto! E a vida seguiu como sempre, perdi amigos de todas as formas,
não importa, pois eu acredito em ciclos de vidas e com eles vêm novas vidas. E
vieram! Continua...
Texto de Francisca Uchôa Souza.
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