Seguia porque é assim, a gente
tem que seguir a vida que segue. Quando falei que eu não acreditava mais em
Deus, era me referindo ao Deus Bíblico e o Deus católico, para mim era demais e
difícil acreditar em um Deus que uma hora amava e outra hora matava, castigava,
destruía... Mas mesmo assim, lá em algum cantinho do meu coração da minha alma
eu sabia que tinha alguma coisa errada e eu queria descobrir o que era eu
precisa conhecer o Deus de amor, segurança, paz, construção, vida, soluções...
Em 1991 eu fiquei grávida do meu filho mais novo, eu estava numa fase intensa
além de mãe eu ainda tinha um pequeno atelier que funcionava em minha casa,
eram dias cheios de trabalhos e problemas, mas eu conseguia conciliar tudo, às
vezes para dar conta do trabalho ficava até de madrugada costurando. Nesse tempo minha mãe faleceu e foi um
choque, chorei, sofri e mais uma vez tive que me erguer e seguir, a vida
continuava... E continuou, o tempo passou e a barriga cresceu e eu não podia mais
dar conta de tanto serviço, tivemos que fechar o atelier (eu tinha uma sócia).
Quando meu filho nasceu logicamente que o trabalho aumentou, pois a família
crescera. Nunca eu abandonei minha fé, parece loucura, mas é assim mesmo, mesmo
que não a creditasse em um Deus padrão eu acreditava que algo maravilhoso,
superior, infinito, bom... E nesse Deus eu tinha fé, acreditava.
Quando meu filho já estava com
alguns meses procurei a igreja que frequentava e falei que queria batiza-lo,
nossa, foi o início de uma tortuosa luta, pois me disseram que eu não poderia
batizar porque eu não era casada no religioso. Tentei dizer de todas as formas
que eu era casada no civil e que já tinha quatro filhos batizados naquela mesma
igreja. A briga foi feia, o padre disse que eu era uma pecadora e que meus
filhos eram filhos do pecado. Um horror!
Juntei todas as fotos de
batizados e primeira comunhão e voltei à igreja para mostrar ao padre, nada!
Sai de lá triste, mas não desisti e fui procurar por outra igreja, foi pior
porque quase causei um atrito interno de igreja para igreja, sai de lá chorando
e sem rumo.
Então decidi ir a CNBB de Manaus,
falar com a pessoa maior, representante das igrejas. Quando estive com o mesmo
contei toda minha peregrinação, mostrei documentos e fotos, falei de minha
vontade de batizar meu filho. Foi horrível, acredito que se fosse à época da
Inquisição eu e minha família teria ido parar na fogueira. Sai de
lá chorando e muito triste. Agora porque isso tudo? Só porque eu não era casada
na igreja, e como meus outros filhos tinham sido batizados? Perguntei as minhas
irmãs e elas não souberam me dizer, mas a verdade é que eles tinham sido
batizados. Bom, fiquei com raiva e briguei
com a igreja, por certo tempo eu deixei de ir rezar e comungar. Mas em casa eu fazia minhas
orações e tinha aprendido uma oração linda na Seicho-No-Ie que ensinava a
perdoar de coração e alma, eu fazia essa oração para obter êxito na convivência
com minha sogra e demais familiares de meu esposo.
O tempo foi passando e quando foi
em outubro de 1994 fui convidada por uma amiga a ir uma palestra no Centro Espírita O Bom Samaritano, ficava perto da minha casa. Eu fui!
Eu sempre que recebia convites de
ir a qualquer igreja que fosse de outro credo eu nunca recusei, ia, via,
escutava, observava e passava. Teve algumas que eu não gostei, pois gritavam em
nome do Senhor e cantavam muito alto. Achei horrível, mas nunca comentei com a
pessoa que havia me convidado. Ficava na minha, falava apenas em casa com os
“meus”.
Fui à palestra e gostei. Fiquei
tranquila, o local era simples, mas havia harmonia, ninguém precisava gritar ou
colocar música alta, e o bom de tudo é que senti paz e a presença de algo
maravilhoso que me contagiou tanto que resolvi voltar outras vezes.
Conversando com a pessoa que
tinha me convidado fiquei sabendo de mais a respeito da “doutrina espírita”.
Inteirei-me mais do assunto e decidi que eu iria mais vezes ali.
Um dia conheci mais intimamente
outro centro e vi uma foto de um homem que estava em forma de retrato pendurado
na parede e perguntei quem era, disseram-me que era Allan Kardec o codificador
da doutrina espírita. Fiquei um pouco assustada, pois aquele rosto eu havia
visto alguns meses atrás em um sonho que eu tivera no qual eu estava em frente
a uma casa quando uma ventania começara e com ela vinha várias folhas de papel
e revistas. Quando a ventania passara eu tinha aos meus pés vários papéis e
revistas. Eu pegava uma e começava a folhear e numa das folhas eu via aquele
rosto que me chamou atenção por ser um rosto de homem que mostrava uma
masculinidade forte e expressiva.
Nunca mais esqueci aquele rosto e
o sonho. Hoje sempre que vejo a foto de Alan Kardec me lembro do sonho e do meu
propósito na vida. A vida seguia... E eu comecei a frequentar quase que
diariamente as reuniões e palestras. Houve um período que participava da sopa
fraterna e ia todos os sábados fazer sopa e distribuir para os mais
necessitados. Foi uma época boa! Aprendi o que era ser solidário,
conheci novas palavras e com elas comecei aprender a viver uma vida melhor. Eu
estava maravilhada e conhecendo o Deus que eu acredito existir e ser.
Conheci novas pessoas, fiz novas
amizades, comecei a levar meus filhos para lá, conversei sobre o assunto com
meu esposo e disse o que estava acontecendo, ele também procurou conhecer e ver
de perto o motivo da minha transformação. Eu já falei que eu não era fácil, mas
também as coisas não eram fáceis pra mim, nada na minha vida que conquistei foi
de graça.
É claro que minha transformação
não foi da noite para o dia. Ainda hoje
sofro e sou cheia de defeitos. Mas o pouco que fui aprendendo e vendo que era
bom eu ia colocando devagar em prática. Nossa, mais custou muito! Lembro que às
vezes eu saia da palestra e antes de chegar em casa eu já tinha desarmonizado
minha vida e tudo de ruim continuava.
A vida seguia, os filhos
crescendo, os problemas também, eu deixará de ir à igreja, mas não esquecera
nunca de rezar Pai Nosso, Ave-maria, Credo, acender uma vela se necessário, eu
tinha e ainda tenho, um pequeno altar em cima de um móvel que eu herdara de minha mãe como
também alguns quadros de santos e imagens e assim eu tinha construído esse
altar, o catolicismo é minha religião de nascença, tem raiz fincada em mim. Lá sempre eu acendi uma vela, orava, (agora consciente de
que só com merecimento que se conseguia os pedidos e que a vela é apenas um símbolo de luz) e conversava com o novo
Deus que eu estava conhecendo. Rezava!
Texto e foto de Francisca Uchôa Souza
– Continua...
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