Estávamos no Mundo Inferior. Sim, no
Mundo Inferior, era assim que se chamava aquele lugar, eu já ouvira falar, mas
eu pensava que era tudo um absurdo, não poderia existir tal lugar. Como poderia
aquilo existir, éramos uma civilização com problemas ambiental e de espaço, mas
tínhamos uma boa tecnologia uma avançada medicina que nos permitia termos quase
que uma vida sem problemas de saúde. Eu não acreditava que diziam que as
pessoas que nasciam com problemas anormais de saúde eram jogados neste mundo
juntamente com aquelas que não pagavam seus tributos para o Governo, ladrões, criminosos.
Não! Aquilo tudo era um grande equívoco ou eu estava tendo um grande pesadelo.
Logo descobri que eu estava enganada,
que realmente aquele lugar existia e tudo mais que falavam dele, tanto prova, que
eu estava lá com os meus filhos vivendo aquele pesadelo acordados. De repente,
vultos pararam diante de nós e pude ver nitidamente que eram pessoas com modos rústicos
quase selvagens, nos puxaram de cima da plataforma e com gestos de admiração, medo,
espanto, sabe lá, nos empurram e ficaram nos observando um pouco de longe
fazendo gestos, nos analisando. Todos eram sujos demais e fedorentos como
também feios, alguns com defeitos físicos, alguns faziam sons que viam da boca,
mas não demonstravam que eram violentos. Engano meu, de repente um deles pulou
sobre mim e arrancou meu pequeno filho do meu colo que gritava e chorava, meu
filho mais velho tentou tomá-lo, mas foi logo segurando por outro que também demonstrou sua fúria. Quando o outro se aproximou de mim para dominar-me ouvi
uma voz grossa que vinha do meio deles, passando por meio de todos eu vi um
homem de porte atlético e com uma altura bem maior dos que ali estavam. Aproxima-se
dos que estavam tentando me agarrar, quando eles percebem que não estão mais
sós se retraíram com as cabeças baixas afastaram-se de mim rapidamente. Este
homem não tinha nenhuma anomalia e era até um homem bonito. Depois fiquei
sabendo pelo sujeito que me salvara que realmente estávamos no Mundo Inferior,
e que aquelas colunas nas casas das pessoas serviam para jogarem realmente
resto de todo lixo, assim o governo resolvia um problema com outro problema, à
fome das pessoas que ali habitavam. Disse que o governo escondia do Supremo
tudo aquilo. Para o Supremo éramos uma Nação perfeita e harmoniosa, assim o
governo conseguia receber cada vez mais créditos e confiança para expandir cada
vez mais seus projetos de um dia chegar ao lugar do Supremo e comandar tudo
sozinho. O governo tinha corrompidos quase todos do Supremo os que não faziam seu
jogo, era morto, silenciado, trancado.
Fiquei revoltada e procurei saber por
que aquele homem que aparentemente não tinha nenhum defeito físico e mental
estava ali. Ele disse-me que descobrira tudo e que inclusive conhecera meu
marido, que meu marido também sabia de tudo, mas que não tinha sido mandado
para baixo, como ele, por causa da família e dos projetos que ele fazia na
realidade, meu marido estava sendo chantageado.
Meu marido sofria ameaças de perder
toda família, o governo dizia que mataria a mim e as crianças. Fiquei mais uma
vez revoltada, pois eu carregava a culpa de minha família ser presa e infeliz,
meus filhos não frequentavam escolas e lugar nenhum, eu achava que tínhamos
sidos presos por causa de minhas manifestações contra a forma que o governo distribuía
oxigênio e água. Senti culpa por muito tempo. Só agora eu entendia porque a passividade
de meu marido e porque ele não levava seus projetos e sempre ia para casa
acompanhado de segurança do governo, não era pra sua proteção como me dizia e
sim para vigiá-lo. Ele não podia dizer nada pra mim, pois éramos como já disse monitoradas
vinte quatro horas todos os dias. Agora era preciso sair dali ou viver para sempre
naquele local quase escuro com pouquíssimo ar e com sobras de alimentos vindas
de cima. Passaram-se alguns dias. Meus dois filhos com problemas respiratórios
começaram a ficar mal, tossiam muito e viviam respirando muito lentamente,
estavam já muito cansados. Até que um dia eu consegui convencer o meu novo
amigo que deveríamos tentar sair dali e continuar nossa luta. Pedi que meu
filho mais velho ficasse com os irmãos até eu voltar.
Conseguimos subir pela plataforma que
ia até certa altura o restante do trajeto tivemos que fazer nos arriscando,
corríamos o risco de sermos cozidos pelos vapores que de minutos e minutos
saiam de pequenos orifícios. Quando chegamos a uma das entradas que tinha pelo
caminho, abrimos e vimos que estávamos de novo no Mundo de Cima, a superfície. A
sensação era muito boa, lembro que fiquei feliz, mas nesse exato momento eu
acordei. Senti-me aliviada e feliz de ver que tudo aquilo tinha sido um grande
e longo sonho ou pesadelo. Mas ao mesmo tempo senti saudades e tristeza. Até
hoje eu continuo sentindo tristeza e saudades, gostaria muito de poder voltar
lá e vir como tudo realmente terminou, sinto saudade da minha família e
principalmente de meu marido e claro do meu amigo que me trouxe para o mundo
real. A sensação que tenho é que deixei de realizar algo muito importante,
necessário.
Nota: Este sonho foi em 1994. Em 1997
eu adquiri pela primeira vez um aparelho conhecido como Bipp. Era um aparelho de
comunicação, recebia e mandava recados. Tinha uma luz verde e vermelha. A roupa
que eu usava no sonho, vi depois em um filme de ficção, as cobertas que cobri meus
filhos no sonho, hoje são usadas em pacientes acidentados pelos paramédicos.
Nosso planeta Terra está passando por transformações, nossas árvores estão
morrendo ou sendo destruídas, vivemos num mundo de reality show, os governos
nos observa vinte quatro horas, nossos rios estão secando, nossa água potável
está correndo sério risco de acabar e em alguns lugares é quente demais em
outros frios. E o oxigênio? O que será que vai acontecer?
Texto de Francisca Uchôa Souza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário, se assim o achar necessário!