Sai logo daquele local, voltei para
perto do outros quatro filhos que estavam aflitos e ansiosos. Eu não podia
parar de pensar tinha que agir o mais rápido possível tinha que ter rapidamente
uma nova ideia, estávamos correndo muito perigo. Eu tinha certeza que tudo
agora seria mais difícil, que eles começariam a nos torturar deixando-nos sem
alimentos, remédios, água e até diminuiriam nosso oxigênio, seria terrível,
pois eu tinha dois filhos com problemas respiratórios. Pedi às crianças que
ficassem todas juntas que eu iria ao banheiro realizar umas necessidades
fisiológicas, (assim eles não ficariam com mais medo e ficariam quietos) pedi
ao mais velho que olhasse por todos, agora ele seria o “homem da casa” e
contava com sua ajuda.
Fui caminhando para a sala central
onde tinha poucos móveis, parei e fiquei pensando, foi quando vi que estava
olhando diretamente para a mesa central. Era uma mesa grande de vidro grosso
com uma coluna toda de aço, só agora eu observava e via uma pequena divisão no
meio da coluna, como fosse uma pequena porta ou algo parecido. Aproximei-me da
mesa, como estivesse limpando o grande e grosso vidro dela, fiquei rodeando a
mesma até que tive a ideia de que a fivela que segurava meus cabelos tivesse caído.
Foi exatamente que eu fiz, soltei disfarçadamente minha fivela e deixe cair já
perto da porta da coluna. Abaixei-me para ajuntar, pude ver nitidamente que era
mesmo uma pequena porta e tinha uma trava que era provavelmente acionada pelo o
botão que tinha ao seu lado. Levantei-me e fui novamente caminhando para o
banheiro. Agora eu estava, mas esperançosa, só que não sabia onde poderia dar
aquela saída, se é que era mesmo uma saída e como faria para sairmos
rapidamente por um espaço tão pequeno. Quando voltei encontrei todas as
crianças já dormindo, elas estavam exaustos. O mais velho estava com o menor no
colo. Eu coloquei as cobertas em cada um, (eram cobertas feitas de material
metálico, mas eram confortáveis) nosso planeta era frio de noite e quente de
dia, sombrio, todas as luzes que tínhamos eram artificiais, pois a luz do sol
quase não chegava até nós. Depois de cuidar das crianças eu sentei e fiquei
pensando na descoberta que fizera.
Foi então que me lembrei de que era
por aquela porta da coluna que meu marido jogava todo o nosso lixo, lixo
produzido dentro da casa. Quem fazia esse serviço era ele, dizia que quando
abria aquela porta sempre saia um odor muito forte e poderia me fazer mal e as
crianças principalmente as duas que tinham problemas respiratórios, por isso,
fazia aquela função eu nunca me preocupara em saber o que ali tinha abaixo do
local que era depositado o lixo.
Lembrei que uma vez eu estava na sala
de meu superior e vi uma mesa de vidro e com uma coluna igual a minha, só que a
mesa era menor, mas a coluna era do mesmo diâmetro da minha casa, lembro que na
época fiquei intrigada, mas com o tempo esqueci e nunca mais pensei em tal
coluna. Agora eu estava juntando o quebra cabeça. Eu tinha que verificar o que
tinha dentro daquela coluna e o que havia abaixo dela, era muito estranho que
em todos os cantos que eu ia sempre tinha uma mesa de vidro com uma coluna
grossa. Eu não sei se meu marido realmente não sabia alguma coisa sobre tal
coluna, pensando bem eu nunca entendi direito suas atitudes em relação a mim e
ao governo, porque ele também trabalhava para o governo no Setor de Obras
Urbanas e Construção Civil, era responsável por todas as casas da população
daquele lugar. Todas as casas dos que trabalhavam para o governo eram iguais em
tamanho e formato. Todos os desenhos e projetos que ele fazia, nunca podiam ir
para nossa casa. Agora se ele sabia de alguma coisa que poderia nos ajudar por
que ele nunca falou para mim? Por que ele nunca discutia sobre o seu
trabalho? E por que ele jamais deixou eu
me aproximar daquela coluna? Ah! Eu tinha que descobrir agora mais do nunca
todas estas respostas. E seria logo, logo, não poderia mais perder muito tempo,
aliás, tempo naquele planeta era algo muito precioso e necessário.
Levantei fui dar uma volta dentro da
casa sem dar o entender que eu estava procurando algo, só agora eu me dava conta
da casa em que morava e também queria calcular como faria para sair dali. Fui à
cozinha e tomei um pouco de água e fiquei atenta para todos os móveis que ali tinha
tudo era muito frio e sombrio tudo era feito de aço ou vidro, não tínhamos nada
de madeira, pois árvores em nosso planeta eram muito poucas e as que tinham
eram protegidas com rigor e as outras que estavam na Grande Estufa eram ainda
muito pequenas.
Enfim, tínhamos o básico, o muito
necessário, mas considerado luxo. Voltei de novo para perto das crianças e
quando lá cheguei todos já estavam acordados pedi que todos levantassem e fôssemos para a sala central. Eu coloquei o mais novo no colo e pedi que o mais
velho tomasse conta dos outros segurando cada um na mão do outro. Dei passos
largos em direção à mesa e me abaixei com o menor no colo, bem perto da mesa e
rapidamente passe para debaixo dela ficando perto da coluna, rapidamente
apertei o botão em seguida ouvi um som leve e vi a pequena porta se abrir. Quando
a pequena porta abriu eu olhei para trás e disse aos meus filhos:
“Não tenham medo, vamos! Temos que
tentar, qualquer coisa que tiver aí embaixo é melhor que essa vida de prisão e
controle”. “Vamos meninos, sejam como o pai de vocês, corajoso”. Em seguida puxei meu filho mais velho e entreguei
a ele o menor em seguida fiz com que os dois entrassem na abertura da porta e
escorregasse para baixo. Em seguida, coloquei cada um na abertura da porta e
empurrei devagar para baixo. Escutei uma
sirene tocando e várias luzes vermelhas piscando, “eles tinham descoberto nossa
fuga” entrei em seguida, fiquei com medo de ficar entalada, mas percebi que
logo abaixo a abertura era um pouco mais larga.
Lembro que no sonho eu sentia uma sensação de
liberdade e de pavor ao mesmo tempo, sentia meu corpo ser sugado por uma
pequena onda de vapor e ao mesmo tempo uma umidade fria, tentei olhar para
baixo para ver meus filhos não dava. Logo senti que meu corpo caiu e os meus
filhos soltaram um pequeno grito, não senti dor, mas senti que caíra em algo
macio e úmido. Procurei todas as crianças e se estavam bem. Coloquei o menor no
colo e segurei na mão do mais velho e só então percebi que estava em uma
plataforma móvel toda revestida de silicone com uma quantia de lixo e odor.
Senti que a plataforma começara a se movimentar para baixo. Ficamos quietos e
calmos. Quando chegamos embaixo não vimos ninguém, sentíamos falta de ar e um
cheiro muito grande de lama, lama era uma coisa que não víamos lá em cima,
sentimos a presença de algo ou alguém se aproximando e pude perceber que eram
vários vultos que se aproximavam de nós, meus filhos ficaram apavorados e todos
se acercaram de mim agarrando-se ao meu corpo. Fiquei parada a espera do quer
que fosse. Só então eu tive a nítida certeza de onde nós estávamos.
Texto de Francisca Uchôa Souza. Continua...
Nota: A coluna era mais ou menos como esta.
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