A Arquibancada.
Era Carnaval de
1988, nessa época o Carnaval era ainda na Avenida Djalma Batista. Até aí tudo
bem, pois era ótimo para todo mundo que brincava e também assistia, mas
diziam já nessa época que o Carnaval deixaria de ser lá e passaria para outro
local. Teríamos um novo local e ideal para aquele evento, que seria o nosso
Sambódromo, seria igual ao do Rio de Janeiro. Que bom! Mas eu não estava
gostando muito da ideia, para mim Carnaval bom mesmo é aquele que se brinca com
simplicidade, bastante alegria e na rua.
A verdade mesmo
é que eu estava procurando era uma desculpa para participar daquele Carnaval, e
como o meu marido já dissera que aquele ano não iria participar da brincadeira,
(ele sempre descia na Escola de Samba Ipixuna, era um dos puxadores) eu fiquei bastante
alegre e com muita vontade de ir ver a festa de perto, ou melhor, se possível
participar dela.
Tratei logo de
entrar em contato com minhas amigas, Fabiana* (comadre), Vânia * (comadre de
meu marido), Sonia* (amiga) e a Nila* (empregada da Fabiana), todas deram a
certeza que iriam para a Avenida. Marcamos a hora e eu tratei de deixar tudo em
ordem; casa, comida, filhos (eram quatro na época). Ah! Marido também, esse
principalmente, afinal ele é que iria ficar com as crianças. E ficou!
Só que quando chegou
a hora marcada que minhas amigas passariam em minha casa, para me pegar, eu
estava com muita dor de cabeça, e totalmente sem animo. Disse a elas que eu não
iria e que assistiria tudo pela televisão.
Ah! Elas não
aceitaram de jeito nenhum, essa desculpa de dor de cabeça, e Fabiana tratou
logo de me empurrar de goela abaixo uns comprimidos de analgésico e pronto já
estava tudo resolvido. E aí de mim que dissesse que não estava melhor.
Despedi-me das
crianças e do marido, que ficou fazendo mil e uma recomendações e pedindo que
eu não chegasse muito tarde, (mas como se o Carnaval só termina no outro dia de
manhã com a última escola a desfilar, é lógico que eu não iria perder de jeito
nenhum).
Fui jurando a
ter cuidados e voltar cedo, (da manhã seguinte, rss,rss,rss...). Éramos cinco,
e prontas para brincar e curtir muito aquele Carnaval que para mim parecia que
estava sendo o último, (e foi mesmo) porque depois não teve mais graça para
mim.
Quando chegamos
à Avenida já havia começado o desfile e vimos que quase todas as arquibancadas
já estavam totalmente lotadas. Mas assim mesmo, não desistimos de procuramos um
lugar que fosse possível ficarmos as cinco juntas e seguras. Então resolvemos
sair andando por de trás das arquibancadas procurando o tal lugar.
Só que em
determinado ponto não nos era mais possível seguirmos mais juntas e fomos
distanciando-nos uma das outras e quando percebemos já estávamos afastadas e
separadas por uma grande multidão, que com certeza fazia o mesmo, procurando um
lugar ou simplesmente passeando, se é que se pode chamar de passeio, uma
situação tão apertada como aquela. Eu e Vânia ficamos juntas e as outras
acabaram se separando de nós duas, mas depois descobrimos que elas também se
separaram. Bom! Perdemo-nos uma das outras.
Tentamos seguir
para frente, mas não foi possível, e o pior, também não era possível nem
voltar. Enfim, estávamos entaladas no meio de uma grande multidão e confusão e
com muito medo. Sabíamos que ali não poderíamos ficar, correríamos o risco de
sermos roubadas e o pior, de sermos apalpadas (quer dizer, levar uns amassos).
Quando
percebemos isso, entramos em pânico e o pior, poderíamos também perder nossos
óculos (de grau). Foi então que eu tive uma ideia e tratei logo de por em prática
falando para a Vânia: “A única forma de sairmos daqui é irmos para baixo da
arquibancada”.
E apontando para
a arquibancada que estava a nossa frente, tratamos de entramos para baixo dela.
E lá ficamos por certos minutos, nós já estávamos nos sentindo seguras, quando
percebemos que a arquibancada sacudia muito. Entramos novamente em pânico e
ficamos apavoradas com a possibilidade de a arquibancada cair e nós sermos
esmagadas.
Eu que sou muito
fantasiosa fiquei logo imaginando as manchetes dos jornais locais do dia
seguinte. Tipo assim: “Mãe de
quatro filhos é esmagada por arquibancada”, ou então “Amigas morrem esmagadas
em baixo da arquibancada”, ou mais, “Arquibancada desaba e esmaga mães de
famílias”. Ah, meu Deus!
Estávamos perdidas, ou melhor, sentindo-nos esmagadas. Pirei! Mas, como eu já
tivera uma ideia para uma saída, novamente ocorreu-me outra ideia para aquela
nova situação. E que situação, esmagadora!
Falei novamente
para a Vânia: Bom, já que estamos aqui e aqui não podemos ficar, vamos ter que
sairmos daqui, o mais rápido possível, e a única saída é sairmos para a
Avenida. Só que não era possível, pois havia guardas em determinados locais e
que não permitiriam que nós passássemos para dentro da Avenida, pois naquele
determinado momento já começaria outra Escola desfilar. E mais uma vez tive
outra ideia. Disse a Vânia, que deveríamos fingir que uma de nós estava desmaiada
e a outra pediria ajuda ao guarda que com certeza iria ajudar.
E assim foi
feito. Eu fingi que desmaie e a Vânia em desespero chamou o guarda e com ajuda
de mais outro guarda, tiraram-nos de lá. Eu logicamente nos braços do guarda
que coitado, mal podia comigo, mas que assim mesmo deu conta da situação e nos
levou para o Socorro que estava montado na Avenida. Enquanto eu era carregada
pelos braços do guarda que teve que atravessar Avenida e consequentemente
passamos por perto de um Canal de TV que ali estava transmitindo o desfile eu
pensei: “Oh meu Deus! Fazei com que o Claudio não esteja vendo isto”. Quando
chegamos ao local do Socorro, o guarda colocou-me em uma maca e veio logo uma
enfermeira me atender (eu continuava fingindo que estava desmaiada) eu ouvi
quando ela disse: Vamos examinar logo esta aqui e se for preciso damos uma
injeção.
Pronto, fiquei
logo boa. Tratei imediatamente de acordar e fingir que já estava melhor.
Deram-me água e logo em seguida chegou um paciente de verdade. Eu e a Vânia que
nessa altura do campeonato já estava pra lá de Bagdá, com medo que descobrissem
que tudo tinha sido apenas uma armação, para podermos sair de onde estávamos tratamos
de fugir do local sem ser percebidas. Longe do local começamos a rir de tudo e
fomos logo procurar as outras nossas amigas. Quando as encontramos, contamos
tudo e rimos muito de toda aquela aventura. Aventura que poderia ter terminado
muito mal. Mas Graças a Deus isso não aconteceu. Depois de já estarmos bem,
resolvemos irmos para o início da Avenida, pois lá, mesmo que ficássemos em pé,
ficaríamos mais tranquilas e poderíamos até brincar sem risco de nada, assim
fizemos. Encontramos uns conhecidos e pronto o resto foi só Carnaval. Brincamos muito. Foi ótimo!
Quando cheguei
em casa de manhã, estava tudo bem, só que minha cabeça estava estourando. Tomei
um bom banho e um café e logicamente em seguida um analgésico e cama, mas antes
de dormir lembrei-me de tudo e acabei rindo e dormindo.
Carnaval agora,
só pela televisão e de preferência deitada na minha cama, perto do marido e com
todo o meu conforto. Feliz Carnaval para todos!
*Nomes
fictícios.
Texto de Francisca Uchôa Souza.
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