Uma história com a ópera em atos.
I ato.
Agora com as prenuncias do inicio
de uma nova temporada do Festival Amazonas de Ópera, estive outro dia
pensando e lembrando como essa paixão por ópera, músicas clássicas, músicas
sacras, jazz, blues, orquestradas... Enfim músicas que denotam uma qualidade de
audição refinada diferente das cotidianas, tanto me fascinam. Mas agora vou
contar como a ópera foi inserida em minha vida e eu envolvida com a mesma sem
ao menos saber do que se tratava nunca ninguém me ensinou ou disse o que era
uma ópera, se tal melodia era de algum compositor erudito ou não. Cresci
ouvindo aqui, ali, algumas vezes essas músicas sem saber do que se tratava.
Quando tinha uns sete a oito anos tive alguns vizinhos que de alguma forma
inseriram a música e até a ópera em minha vida e só depois de muitos anos vim
descobrir do que se tratava. Hoje me recordo e quero muito transcrever o que eu
vivi e fez com que eu chegasse aonde cheguei amando a música erudita, jazz,
blues... A ópera!
Tive uma vizinha que tinha quatro
filhos, todos já eram jovens rapazes e uma moça, Cristóvão, Celso, César e
Célia. Eu era uma criança que gostava muito de brincar fora de casa (naquele
tempo não havia o perigo de hoje) como quase todas as crianças daquela época e na
casa de dona Valquíria, mãe dos jovens citados acima, lá não havia criança e
por isso eu era tão querida e aceita e eu por minha parte adorava lá estar,
além do chamego e dos doces que comia, gostava muito de ver Célia tocar um
piano que lá tinha. Pois é, esse foi meu primeiro contato com a música erudita,
com a ópera, às vezes que eu ouvia alguém tocando aquele piano eu corria para
ver quem era e poder ver aquelas teclas brancas sendo tocadas pelas pontas dos
dedos. Célia era quem mais tocava e eu gostava, lembro que sempre que isso
acontecia, eu sempre ficava na sala olhando o vai e vem de suas mãos sobre
aquele teclado, não entendia nada só sentia que era gostoso ouvir aquelas
músicas. Dona Valquíria e Sr. Cristóvão eram os pais dos jovens, era um casal
feliz e todos viviam em harmonia e eu lá no meio deles feliz também, era bom
estar ali.
Um dia Célia disse assim: - “Francisquinha
vou tocar uma música e quero que você preste atenção e escute com o coração”.
Eu não entendi nada, mas escutei. Era uma melodia calma, serena, momentos
fortes e tristes, mas gostei, depois fui brincar e esqueci. Uma vez sentei no
banco que tinha em frente ao piano e levantei a tampa dele, olhei para aquelas
teclas, mas não tive coragem de nelas tocar, olhei para baixo e vi que minhas
pernas eram curtas e por isso meus pés não alcançavam uns pequenos pedais que
embaixo tinha.
Um dia acordei e fiquei sabendo
que eles iriam se mudar e com eles o piano foi junto. Lembro-me do dia da
mudança, fiquei de longe assistindo vendo o vai e vem dos ajudantes e a
preocupação da Célia com seu piano. Não quis me despedir deles, fiz de conta
que eles estavam indo viajar e voltariam mais tarde. Mas não voltaram e eu
nunca mais vi aquele lindo piano preto com suas teclas brancas.
Hoje sei exatamente que música
era aquela que a Célia tocou pra eu ouvir, era Nocturne de Chopin, música
tocada e ouvida já em novelas, cinema, concertos... Também sei o que significa
ouvir com o coração, hoje minha alma dança quando escuto uma música que me faz
feliz, seja ela clássica, seja um rock, um blues, um jazz ou uma toada de
boi... Obrigada Célia! Continua...
Texto por Francisca Uchôa Souza.
Foto que copiei da busca do Google, era mais ou menos assim o piano que tinha na casa de Célia
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