Quando Lucy saiu do prédio deixando Jorge sozinho no
apartamento sentia que havia esvaziado sua vida, sentia-se leve o suficiente
para não ter consciência pesada.
Foi andando até chegar a uma pracinha, a noite estava fria e
silenciosa, ainda não era muito tarde, mas muitos que ali frequentavam já não
mais estavam. Sentou-se em um banco já gasto pelo tempo que ficava sob uma
árvore que as folhas anunciavam a chegada do outono.
Lucy fechou os olhos e colocou sua cabeça repousada no
encosto do banco. Precisava daquele momento, queria muito que as coisas não
tivessem chegado aonde chegou, lutou por alguns anos, meses, e por fim viu que
não teria mais solução. Achava que nunca teria coragem de deixar Jorge, era o
amor de sua vida, era o que queria, eram sonhos, desejos e lutas, só que
percebera que não podia mais amar por dois.
Jorge mudara ou será que ele sempre fora assim? Meu Deus!
Será?
Lucy não queria pensar agora naquilo, o que ela queria mesmo
era ter a certeza que quando voltasse para casa não encontraria mais Jorge e
vir nele suas possibilidades de ser feliz com alguém jogada pelo chão.
Lucy precisava de seu apartamento livre do passado e de um
amor que acabou e nada agora mais interessava. Por um instante sentiu um frio,
mas se agasalhou e pensou em Henrique.
Henrique apesar de ser passado, agora era presente. Presente
em seus pensamentos e lembranças restava saber se deveria ser presença
novamente em sua vida. Ela já tinha como perdido aquele relacionamento um tanto
conturbado e penoso para ela. Por não mais aguentar tanto sofrer recorreu a
Deus, sim, Deus. Pedira a Ele e a tudo que fosse divino que tirasse Henrique de
sua vida, de seus pensamentos, de seus dias, de seu coração. Acalmou-se,
quietou-se e esperou um milagre. Um dia, Lucy acordou e como sempre foi logo ao
banheiro e olhou-se no espelho e percebeu que estava só. Sim, sozinha! Não
sentiu e nem viu mais a imagem refletida de Henrique por detrás dela. Sentiu
algo estranho, um libertar e um vago imenso na alma. Lavou o rosto, enxugou-o
com força apertando bem os olhos para que tivesse certeza que estava acordada.
Olhou-se novamente e agora bem nitidamente via-se sozinha, mesmo assim limpou o
espelho com a manga da blusa para ter a certeza do que via.
E assim, descobriu o milagre realizado. Henrique partira,
sumira, fora expulso de sua vida. E por que aquela sensação de vazio?
Trecho do livro Razões
Escrito e postado por Francisca Uchôa Souza
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