O vento
Olhando da janela observo o vento, não
muito forte, não muito fraco, um vento que balança as folhas do campo. Um fim
de tarde tristonha, morna, quieta, e vento vai e vem, levanta as folhas do
pequeno floral, rasteiro, cheio de flores pequeninas e vermelhas. Observo
atenta, o vento vem o vento vai. Fixo o olhar em um fino ramo de flor, suas
folhas lutam com o vento, elas não querem ser arrancadas do caule e nem ser
levadas por ele – o vento.
Diferente de outras que conforme o
vento passa por elas, se esticam, vão. No ar elas se enrolam se debatem umas
nas outras, logo adiante caem, se misturam já com as mortas, amarelas, marrons,
sem vidas. As flores são pequeninas, mesmo assim resistem à ventania, não muito
forte, não muito fraca. Balançam pra lá, pra cá, se dobram, mas não caem,
resistem, ficam firmes, algumas não aguentam, são arrancadas e levadas pelo
vento, caem na estrada, pelo caminho, misturam-se com as folhas vencidas,
adormecidas pela ação do tempo – do vento.
O sol querendo se por, cansado, mesmo
na cor tom quente, não castiga, está lento, desce devagar, suavemente, até
parece querer ser abanado pela onda de vento que já ficando mais lento ainda
persiste fazer uma brincadeira com quem ele sente.
Observo e sendo coerente debruço-me
sobre a janela e entrego-me a uma pequena rajada de vento. Ele passa por mim. Sobre
mim. Penetra pelos meus cabelos, sinto uma brisa suave, fina, fria. Fecho os
olhos e percebo a dor das folhas arrancadas, ceifadas, a luta da flor em não querer
ser levada, ser jogada, mas se entrega pois sabe que mais adiante será novamente
semeada. Quieta! Parada! De olhos fechados sinto uma pequena onda de vento de
resto da outra, chegou atrasada e parou. Parou perto de mim e num salto de
saudade pergunto baixinho: “Onde ele estar?”.
Sentindo saudade e ansiedade abro os
olhos e vejo o campo mergulhando na escuridão da noite, o vento se foi, acabou,
passou, deixando comigo apenas a dor de mais uma noite sem o teu amor.
Escrito e postado por Francisca Uchôa Souza - Foto pintura de Francisca Uchôa Souza
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário, se assim o achar necessário!