quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O Alquimista - Paulo Coelho

O Alquimista pegou um livro que alguém na caravana havia trazido. O volume estava sem capa, mas consegui identificar seu autor: Oscar Wilde. Enquanto folheava suas páginas, encontrou uma história sobre Narciso.
O Alquimista conhecia a lenda de Narciso, um belo rapaz que todos os dias ia contemplar sua própria beleza num lago. Era tão fascinado por si mesmo que certo dia caiu dentro do lago e morreu afogado. No lugar onde caiu, nasceu uma flor, que chamaram de narciso.
Mas não era assim que Oscar Wilde acabava a história.
Ele dizia que quando Narciso morreu, vieram as Oréiades - deusas do bosque - e viram o lago transformado, de um lago de água doce, num cântaro de lágrimas salgadas.
- Por que você chora? - perguntaram as Oréiades.
- Choro por Narciso - disse o lago.
- Ah, não nos espanta que você chore por Narciso - continuaram elas. - Afinal de contas, apesar de todas nós sempre corremos atrás dele pelo bosque, você era o único que tinha a oportunidade de contemplar de perto sua beleza.
- Mas Narciso era belo? - perguntou o lago.
- Quem mais do que você poderia saber disso? - responderam, surpresas, as Oréiades.
- Afinal de contas, era em suas margens que ele se debruçava todos os dia.
O lago fico algum tempo quieto. Por fim disse:
- Eu choro por Narciso, mas jamais havia percebido que Narciso era belo.
"Choro por Narciso porque, todas as vezes que ele se deitava sobre minhas margens eu podia ver, o fundo dos seus olhos, minha própria beleza refletida".

"Que bela história" disse o Alquimista.
Postado e foto de Francisca Uchôa Souza