quinta-feira, 4 de abril de 2013

Fernando Pessoa - O amor bate à porta.

Deixa que um momento pense
Que ainda vives ao meu lado...
Triste de quem por si mesmo
Precisa ser enganado!
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Dias são dias, e noites
São noites e não dormi...
Os dias a não te ver
As noites pensando em ti.

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Tenho vontade de ver-te
Mas não sei como acertar.
Passeias onde não ando,
Andas sem eu te encontrar.

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Dá-me um sorriso ao domingo,
Para a segunda eu lembrar.
Bem sabes: sempre te sigo
E não é preciso andar.


Postado e fotos por Francisca Uchôa Souza 

Uma história com a ópera em atos.

II ato.
O meu pai tinha um comércio que funcionava das 06h00min da manhã até às 20h00min, mas todos os dias quando dava 18h00min ele levantava o som de um belo rádio que ele tinha em uma de suas prateleiras de mercadorias e eu ficava fascinada com a música que de lá saia juntamente com a voz do locutor que dizia: “em Brasília, dezenove horas” e no fundo de sua voz ecoava uma bela melodia, forte, alta, vibrante, inesquecível, um dia muito mais lá pra frente descobri que se tratava de o Guarani obra de Carlos Gomes e que um dia também muito mais para frente eu comprei o álbum em forma de disco compacto e muito mais tarde assisti a ópera já no Festival Amazonas de Ópera, em todos esses momentos vividos depois de minha infância quando ouvia o Guarani minha vida era remetida imediatamente a minha infância, brincando junto à calçada do comércio do meu pai e ele me dizendo depois da abertura do programa a Voz do Brasil “Francisca, está na hora, suba e vá tomar banho”. Nunca imaginei que um dia iria descobrir o poder da música e das lembranças. 
O tempo passou, cresci um pouco mais agora já tinha 10 anos e agora eu gostava muito de ler, eu aprendera o gosto da leitura, lia de quase tudo, gibis do meu irmão, às vezes ele brigava comigo porque eu tirava as revistas das posições que ele colocava, mas também me dava alguma nova que ele conseguia. Nessa época eu frequentava a escola particular de Dona Maria Rosa e frequentava sua casa em outras horas. Dona Maria era casada como Sr. Vieira os dois não tinham filhos e eu mais vez fui recebida naquela casa com mimos. Tinha outra menina que também frequentava a casa era a Maria da Luz. Mas era comigo que dona Maria ia receber todo final de mês seu salário de professora. O Sr. Vieira não gostava que dona Maria lesse umas revistas que ela gostava; Sétimo Céu, Capricho, Grande Hotel e outras. Todas às vezes que a gente saía ela comprava várias delas incluía também Tio Patinhas, Pato Donald, Recruta Zero, Bolinha, Luluzinha, Brotoeja, Riquinho... Nossa, que saudades, parece nesse instante que foi ontem. Naquele tempo também não havia bancas de revistas como hoje, todas eram compradas em livrarias como a Colegial, Acadêmica, Brito, as revistas eram enroladas e amarradas com fio barbante. Saudade!
Quando voltávamos, antes de chegarmos a casa dela ela sempre me dizia, “Leva as revistas para sua casa, lê as que você gosta e quando o Sr. Vieira não estiver em casa você trás pra mim”. Assim eu fazia. Eu era cúmplice dela em um segredo literário, interessante.
Assim aprendi a gostar de ler além de minhas revistas infantis, lia também as dos adultos que eram as fotonovelas. Lembro que foi nessa época que aprendi (ou adquiri o hábito) a cheirar os livros, as revistas tinham um cheiro gostoso. Mas gostoso era ler o que nelas tinham, histórias. A revista Grande Hotel era a mais interessante trazia histórias de amor, aventura, suspense, medo... Contava histórias bonitas e nelas eu li, Hobby Hood, Ivanhoé, O Príncipe Valente, Sansão e Dalila, Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, Carmem, Guilherme Tell, O médico e Monstro, O Morro dos Ventos Uivantes... E tantas mais que não serei possível lembrar, talvez as mais marcantes é que ficaram, aqui, ali quando vejo algo que me remete para lá, eu lembro. Fui muito feliz na infância. Eu lia e não entendia muita coisa, mas sei que eram histórias cheias de glória, luta, amor, valentia, medo, justiça e injustiça também. Hoje eu sei o que era, conhecimento, cultura, vida. E assim a ópera através da leitura foi inserida em minha vida sem eu saber que mais tarde eu veria, ouviria e sentiria tanta emoção vendo uma história sendo contada em cantos. Essa foi a segunda vez que entrei em contato com a ópera. Marcou. Obrigada dona Maria Rosa! Continua...
Texto de Francisca Uchôa Souza, fotos também.
Foto que consegui fazendo pesquisa no Google,copiei e montei.

Foto tirada do encarte que tenho de lembrança da apresetação.


Disco álbum que comprei em 1995.

Onde você estar?


Onde você estar?
Em alguma cama, nos braços dela?
Deitado olhando o teto e revendo toda a sua vida sem mim.
Perguntando por quê?
Andando no quarto vazio (de mim) olha para cama,
E vê um corpo seminu, mas não é o meu.
Vai até a varanda e sente a brisa fresca da manhã,
Nela vem o meu cheiro.
Você sente, aspira, fecha os olhos e deixa que ela penetre seu corpo,
Sua alma, seu coração.
Essa brisa te revigora,
Nela eu estou.
Será mais um dia sem mim, você sabe disso.
Mas percebe que mesmo assim,
Você é movido às lembranças, a saudade e a esperança.
Onde você estar?
Escrito e postado por Francisca Uchôa Souza
Coração no céu.
Foto de Francisca Uchôa Souza

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Uma história com a ópera em atos


Uma história com a ópera em atos.
I ato.
Agora com as prenuncias do inicio de uma nova temporada do Festival  Amazonas de Ópera, estive outro dia pensando e lembrando como essa paixão por ópera, músicas clássicas, músicas sacras, jazz, blues, orquestradas... Enfim músicas que denotam uma qualidade de audição refinada diferente das cotidianas, tanto me fascinam. Mas agora vou contar como a ópera foi inserida em minha vida e eu envolvida com a mesma sem ao menos saber do que se tratava nunca ninguém me ensinou ou disse o que era uma ópera, se tal melodia era de algum compositor erudito ou não. Cresci ouvindo aqui, ali, algumas vezes essas músicas sem saber do que se tratava. Quando tinha uns sete a oito anos tive alguns vizinhos que de alguma forma inseriram a música e até a ópera em minha vida e só depois de muitos anos vim descobrir do que se tratava. Hoje me recordo e quero muito transcrever o que eu vivi e fez com que eu chegasse aonde cheguei amando a música erudita, jazz, blues... A ópera!
Tive uma vizinha que tinha quatro filhos, todos já eram jovens rapazes e uma moça, Cristóvão, Celso, César e Célia. Eu era uma criança que gostava muito de brincar fora de casa (naquele tempo não havia o perigo de hoje) como quase todas as crianças daquela época e na casa de dona Valquíria, mãe dos jovens citados acima, lá não havia criança e por isso eu era tão querida e aceita e eu por minha parte adorava lá estar, além do chamego e dos doces que comia, gostava muito de ver Célia tocar um piano que lá tinha. Pois é, esse foi meu primeiro contato com a música erudita, com a ópera, às vezes que eu ouvia alguém tocando aquele piano eu corria para ver quem era e poder ver aquelas teclas brancas sendo tocadas pelas pontas dos dedos. Célia era quem mais tocava e eu gostava, lembro que sempre que isso acontecia, eu sempre ficava na sala olhando o vai e vem de suas mãos sobre aquele teclado, não entendia nada só sentia que era gostoso ouvir aquelas músicas. Dona Valquíria e Sr. Cristóvão eram os pais dos jovens, era um casal feliz e todos viviam em harmonia e eu lá no meio deles feliz também, era bom estar ali.
Um dia Célia disse assim: - “Francisquinha vou tocar uma música e quero que você preste atenção e escute com o coração”. Eu não entendi nada, mas escutei. Era uma melodia calma, serena, momentos fortes e tristes, mas gostei, depois fui brincar e esqueci. Uma vez sentei no banco que tinha em frente ao piano e levantei a tampa dele, olhei para aquelas teclas, mas não tive coragem de nelas tocar, olhei para baixo e vi que minhas pernas eram curtas e por isso meus pés não alcançavam uns pequenos pedais que embaixo tinha.
Um dia acordei e fiquei sabendo que eles iriam se mudar e com eles o piano foi junto. Lembro-me do dia da mudança, fiquei de longe assistindo vendo o vai e vem dos ajudantes e a preocupação da Célia com seu piano. Não quis me despedir deles, fiz de conta que eles estavam indo viajar e voltariam mais tarde. Mas não voltaram e eu nunca mais vi aquele lindo piano preto com suas teclas brancas.
Hoje sei exatamente que música era aquela que a Célia tocou pra eu ouvir, era Nocturne de Chopin, música tocada e ouvida já em novelas, cinema, concertos... Também sei o que significa ouvir com o coração, hoje minha alma dança quando escuto uma música que me faz feliz, seja ela clássica, seja um rock, um blues, um jazz ou uma toada de boi... Obrigada Célia! Continua...
Texto por Francisca Uchôa Souza.
Foto que copiei da busca do Google, era mais ou menos assim o piano que tinha na casa de Célia