sábado, 29 de junho de 2013

Adeus!

Sobre o peitoral da janela no oitavo andar daquele prédio antigo debruço-me e grito bem alto:
 "Pode ir!"
 "Vai... Leva contigo minha vida minha alma, meu amor".
Não olhas para cima, para trás, entras num carro parado, que estava já a te esperar.
O carro vai embora, não tenho mais o que dizer, olho as pessoas que continuam passando e levando consigo um pedaço daquele momento meu, vazio.
Entro, deixo meu corpo se jogar, escorregar bem devagar na parede até o chão encontrar.
Abaixo a cabeça e falo para meu coração ouvir e se conformar:
"Que não volte, levou minha vida, meu amor, minha alma se rasgou um pedaço  foi e outro ficou". "Devias também ter levado a dor, e por favor não deixes a saudade vir com as desculpas de  que algo sobrou".
Acabou!

Escrito e postado por Francisca Uchôa Souza Foto de Francisca Uchôa Souza

Centro - Adeus!


quinta-feira, 27 de junho de 2013

O vento


O vento

Olhando da janela observo o vento, não muito forte, não muito fraco, um vento que balança as folhas do campo. Um fim de tarde tristonha, morna, quieta, e vento vai e vem, levanta as folhas do pequeno floral, rasteiro, cheio de flores pequeninas e vermelhas. Observo atenta, o vento vem o vento vai. Fixo o olhar em um fino ramo de flor, suas folhas lutam com o vento, elas não querem ser arrancadas do caule e nem ser levadas por ele – o vento.

Diferente de outras que conforme o vento passa por elas, se esticam, vão. No ar elas se enrolam se debatem umas nas outras, logo adiante caem, se misturam já com as mortas, amarelas, marrons, sem vidas. As flores são pequeninas, mesmo assim resistem à ventania, não muito forte, não muito fraca. Balançam pra lá, pra cá, se dobram, mas não caem, resistem, ficam firmes, algumas não aguentam, são arrancadas e levadas pelo vento, caem na estrada, pelo caminho, misturam-se com as folhas vencidas, adormecidas pela ação do tempo – do vento.

O sol querendo se por, cansado, mesmo na cor tom quente, não castiga, está lento, desce devagar, suavemente, até parece querer ser abanado pela onda de vento que já ficando mais lento ainda persiste fazer uma brincadeira com quem ele sente.

Observo e sendo coerente debruço-me sobre a janela e entrego-me a uma pequena rajada de vento. Ele passa por mim. Sobre mim. Penetra pelos meus cabelos, sinto uma brisa suave, fina, fria. Fecho os olhos e percebo a dor das folhas arrancadas, ceifadas, a luta da flor em não querer ser levada, ser jogada, mas se entrega pois sabe que mais adiante será novamente semeada. Quieta! Parada! De olhos fechados sinto uma pequena onda de vento de resto da outra, chegou atrasada e parou. Parou perto de mim e num salto de saudade pergunto baixinho: “Onde ele estar?”.
Sentindo saudade e ansiedade abro os olhos e vejo o campo mergulhando na escuridão da noite, o vento se foi, acabou, passou, deixando comigo apenas a dor de mais uma noite sem o teu amor.
As folhas
Escrito e postado por Francisca Uchôa Souza - Foto pintura de Francisca Uchôa Souza

 

segunda-feira, 24 de junho de 2013

A desordem


 A desordem
Hoje acordei assim, com medo, apreensiva, e sem saber o que fazer com esta dor que insiste em dilacerar o meu peito aos pouquinhos. Mas medo de quê? Meu Deus! Não sei! Apenas, sinto medo. Talvez do nada, do vazio, que me ronda, me espreita, e me questiona.
Às vezes, é difícil eu compreender a razão dos meus porquês, dos meus questionamentos, até mesmo o sentido dos meus sentimentos sobre mim, sobre você. Você, você, sempre você!
Desde que resolvi enclausurar você em um quarto escuro e vazio, fiquei assim. Taí. A razão dos meus medos. Mas não tenho pena de você, sozinho, ali no escuro, longe de mim.
Eu aqui também estou sozinha, livre, mas sem você. E penso. Vale a pena? Não sei! Só o tempo pode responder, por enquanto apenas continuo perdida, sinto uma dor que devagarzinho todos os dias dilacera meu coração e doí.
Você mesmo preso na escuridão continua sendo uma sombra que insiste em me amedrontar, me calar e com tudo isso a desordem se instala em mim, no meu dia a dia fazendo eu muitas vezes não saber o que quero, e pensar que tudo estar perdido, sem sentido. A desordem!
Vejo tantas coisas. Coisas boas, interessantes, mas, muitas delas são absurdas. E você no meio. Passa o dia, chega à noite, e eu sentindo esse absurdo de não poder gritar falar, tenho que ficar muda, quieta, passiva diante da desordem que hoje resolveu me acordar e dizer:
“Hoje vamos passar o dia juntas. Quero ver o que você vai fazer!"
Escrito e postado por Francisca Uchôa Souza - Foto e pintura de Francisca Uchôa Souza

Desordem