quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Saci Pererê


Saci Pererê
Foi criado no séc. XVIII pelos povos indígenas do sul do Brasil. Saci Pererê faz parte do Folclore Brasileiro e no dia 31 de outubro é comemorado o seu dia.Quando foi criado Saci não tinha a aparência que tem agora. Era um menino de cor morena tinha as duas pernas e possuía um rabo. Sempre foi peralta e o local que vivia era nas florestas. Saci acabou sofrendo uma grande influência por causa dos outros povos tornando-se um menino negro e perdeu uma perna lutando capoeira, ganhou também um gorro vermelho, um cachimbo e passou a pular em uma perna só.
Segundo a lenda Saci é muito brincalhão e gosta de fazer muitas travessuras nas florestas. Quando Saci vê viajante passando pela floresta ele apronta de todas, causando medo. Saci também gosta de entrar nas casas que ficam próximas a floresta, Saci esconde objetos, assusta animais domésticos, come às vezes os doces da casa.
Mas Saci só faz tudo de travessura, coisa de menino peralta, nada de coisas ruins ou más que possa prejudicar as pessoas ou animais.
Hoje Saci além das travessuras adquiriu uma nova missão, é protetor do meio ambiente, sempre que pode faz de tudo para proteger as florestas, sua casa, sua moradia e bem-estar para todos nós.
Ninguém segura este menino, que usa um redemoinho de vento para poder se locomover. Falam que para prender um Saci é necessário jogar uma peneira em cima do dito redemoinho, tirar o gorro dele e depois colocar o moleque dentro de uma garrafa. Só assim ele sossega e passa a ser obediente e respeitar quem o prendeu.
SALVE O SACI PERERÊ – SALVE NOSSAS FLORESTAS E NOSSAS LENDAS.
Escrito e postado por Francisca Uchôa Souza.




José - Carlos Drumund de Andrade


JOSÉ
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
E agora, você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro, sua incoerência,
seu ódio - e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar
Sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, pra onde?
Carlos Drummond de Andrade
Postado por Francisca Uchôa Souza

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A dança das gotas d'águas

                                                                                                              

Quando pequena, acho que tinha uns sete a oito anos de idade, não sei bem, mas isso não importa, morava em um pequeno prédio que ficava de canto de duas ruas que hoje são bem movimentadas, mas naquele tempo não. Neste pequeno prédio morávamos no andar de cima e no andar de baixo era o comércio do meu pai. Era um comércio bem movimentado e sortido, meu pai vendia do jabá ao brinquedo. Eu cresci neste ambiente de compras e vendas, eu era a filha mais nova de uma prole de quatro, éramos três mulheres e um homem. Eu como caçula tinha alguns privilégios.
Meu pai era um homem simples e trabalhador, minha mãe era uma pessoa também simples e uma excelente mãe e dona de casa. Era uma pessoa que gostava muito de animais, cresci rodeada deles. Minha mãe criava porcos, galinhas, papagaios, periquitos, gatos, cachorros. Aprendi muito cedo a dar valor à vida não só humana mais também dos animais. Quando não estava brincando eu estava estudando ou outras vezes eu estava no comércio do meu pai, hora ajudando a arrumar as prateleiras (coisa que eu gostava muito, foi praticando esse trabalho que aprendi arrumar tudo em ordem crescente, rótulos sempre pra frente, produtos agrupados por qualidades e necessidades de primeira ordem. Até hoje arrumo meus armários assim, minha filha diz que é TOC, aprendi com meu pai que é organização com satisfação e necessidade) hora buscando algum doce ou um brinquedo para brincar. Apesar de ser menina eu adorava brincadeiras de meninos e em especial as bolinhas de gude, pipas e jogar bola.
Tive muitos amigos, todos maravilhosos. Sempre gostei mais de brincar com meninos do que com meninas. Mas também brinquei muito de boneca, mais os meus preferidos eram bolinhas de gude, pipas e jogo de botão. Mas às vezes que não dava para eu sair porque estava chovendo, o que eu mais gostava mesmo de fazer era sentar-me em cima de uma mesa grande que minha mãe tinha. Eu cresci vendo aquela mesa, mamãe compara a mesma de um Senhor chamado José, ele era barbeiro, e estava com vontade de tentar a vida em outro lugar e por isso decidiu vender suas mobílias e minha mãe interessou-se pela mesa. Quando minha mãe soube que ele estava vendendo-a, não perdeu tempo, ela se encantou com a mesa, pela sua forma retangular, tamanho, altura, e também porque tinha uma grande gaveta. Minha mãe era uma pessoa decidida organizada e tinha visão além. Na mesa, minha mãe talhava todas as roupas da família e principalmente as calças de meu pai. Também fazíamos todas as refeições, quase todas as noites depois do jantar, papai sempre ficava conversando com mamãe, como eu era a menor ficava por perto, ficava cansada de esperar eles decidirem irem para o quarto dormir.
Eu dormia no mesmo quarto, e tinha medo de ir para lá sozinha, no fim das contas eu acabava deitando-me embaixo da mesa. Às vezes meu pai contava histórias sobre, fantasmas, curupiras, uma trouxa de roupa que diziam que rolava de madrugada rua abaixo (a rua comentada era a Manicoré, onde nasci e morei até aos seis anos) e outras lendas urbanas da época. Aquilo me dava medo e eu tratava logo de dormir. A parte boa era que sempre meu pai carregava-me no colo para o quarto colocando-me na minha rede. É uma saudade boa de ser lembrada.
Tenho lembranças ainda muito mais remotas, de quando eu era ainda muito menor talvez dois, três, quatro anos, todas às vezes que mamãe dava-me banho ela colocava-me em cima da mesa para enxugar-me e passar talco. É, é isso, eu tinha três anos quando esta mesa entrou em nossa casa e em minha vida também. Como eu estava dizendo, quando chovia e eu não podia sair para brincar, então eu me sentava em cima da mesa que ficava sempre perto de um janelão na sala de jantar. Ficava lá, olhando a chuva e o horizonte na direção onde o sol nasce essa direção era muito arborizado e as copas das árvores pareciam que se se encostavam ao céu e eu ficava a imaginar o que havia por detrás daquelas árvores.
Permanecia lá, sonhando e vendo a chuva cair, perto do janelão onde passavam os fios de luz. Eram quatro carreiras de fios de luz, ficava tão próximo do janelão que se esticasse o braço com um cabo de vassoura poderia tocá-los, (bom, só os adultos, pois meus braços eram pequenos). Eu gostava daqueles momentos, era maravilhosos eu via nitidamente as gotículas de chuva cair em direção a grande calçada que circulava o prédio. E quando a chuva ia passando, era o melhor momento, pois todas as gotinhas da chuva que ficavam nos fios, elas começavam uma linda dança, que eu chamei de A dança das gotas d’água.
As pequenas gotas corriam por certa distância no fio e quando paravam acabavam caindo para o fio de baixo, para se agruparem com outra gota e depois todas saiam juntas a fazer novamente a dança de correm pelo fio até caírem novamente e irem pararem no fio debaixo e assim por diante, até que quando não tinha mais fio elas caiam definitivamente na calçada e lá escorriam para a grama.
Eu ficava assim, observando todos os movimentos delas, às vezes até não ter mais nenhuma gota nos fios. Ficava a contar as gotas mágicas. Depois aprendi a marcar o tempo de uma gota para outra, até caírem. Hoje, às vezes quando passo perto desse prédio e olho para cima e não vejo mais o janelão, pois o prédio foi transformado em uma grande loja de motos e o novo dono achou por bem mudar a fachada do prédio cobrindo toda a frente e lateral e por isso ficou tudo por trás escondido, no passado de um tempo que passou. Assim também acho que ficaram escondidas dentro de mim as lembranças daqueles dias em que eu sentava em cima da mesa e ficava a olhar a chuva cair e depois ver A dança das gotas d’água, e o horizonte, imaginando o que teria através daquelas grandes copas.
Hoje, eu sei o que tinha escondido atrás daquelas copas. Era o meu futuro. Atualmente estou casada e moro justamente neste horizonte, na direção em que eu olhava agora eu olho daqui e não consigo ver o prédio, pois as árvores que de lá eu via, não existe mais aqui. As árvores foram substituídas por casas altas e até prédios. Hoje são eles que escondem o meu horizonte de lá e não consigo mais sonhar ou ficar pensando no que teria atrás daquelas construções, pois eu sei o que o progresso fez. Também não tenho mais muito tempo para olhar a chuva, só me resta às lembranças, a mesa da parte da herança de minha mãe e uma menininha que sempre sente saudade de ver A dança das gotas d’água, sentada na mesa debruçada no janelão, vendo pequenas gotas d’água.
Texto e foto de - Francisca Uchôa Souza
O janelão que me referi no texto é o terceiro do fim pra frente do prédio. Tempo bom. O comércio de meu pai chamava-se Planice Verde.