sábado, 24 de outubro de 2015

Manaus faz 346 anos. Parabéns Manaus!

Manaus linda cabocla!
Terra quente e de gente boa.
Hoje é teu dia.
Dia feliz!
Mesmos em dias de cinza.
Não deixamos de te ver sorrir.
São 346 anos e outros tanto irão chegar.
O tempo só importa,
Para te dizer, quantos ainda vão te amar.
Parabéns Manaus!
                                                   - Francisca Uchôa Souza

Manaus és bonita e formosa,
Teus encantos são mil,
Muitos aqui outros ali.
Cabocla morena e charmosa.
És linda cuiã.
Sou todo tua de coração.
                                                      - Francisca Uchôa Souza


Manaus, ainda bem que não te tornaste em Liverpool.
Continuas morena, de cabelos negros sem olhos azuis.
Carregas contigo as marcas dos que por aqui passou
Vives embalada por filhos mistos que te adotou.
Teus rios e tuas matas são questões de preocupação.
Os que se vão carregam-te no coração.
Uns voltam e outros daqui não saem não.
                                                                   
                                                                      - Francisca Uchôa Souza


Postagem e textos de Francisca Uchôa souza











terça-feira, 20 de outubro de 2015

A mulher e o jabuti (em uma noite quente de verão)


A mulher e o jabuti (em uma noite quente de verão)

São aqueles dias quentes. A mulher não consegue mais dormir. O calor a acordou com gotas de suor escorrendo pescoço abaixo e algumas delas desciam pelas suas costas e usavam o caminho da coluna para chegar até seu destino final, (aquele lugar que muita gente não gosta de pronunciar o nome). Aquilo a deixou inquieta, pois sabia que não é saudável. Seu médico já havia lhe dito uma vez que é perigoso e pode causar algum problema sério.
Afastou o pequeno pano que usava como lençol e abriu as pernas com a intenção de que o pouco vento que vinha do velho e empoeirado ventilador conseguisse apagar aquele fogo que se instalara em seu corpo. Nada acontece. O calor continuava aquecendo cada vez mais seu corpo coberto apenas por uma gasta e desbotada camisola. Ela decide então se virar na cama e alcançar o interruptor do abajur que mantinha uma fraca e suave luz. Pronto! Agora talvez melhore! Voltou-se para a posição anterior e deu de cara com um novo cenário.
Era o céu. Estava ali, todo aberto, escancarado e oferecido para ela. Ficou atônita, com tanta beleza e aquela imensidão de luzes piscando. Como nunca pode ter percebido tudo aquilo antes? Sentiu seu corpo esquentar mais, num quase pulo levantou-se e com um puxão afastou a fina e branca cortina que ainda a separava daquela visão magnifica de uma noite calorenta com suores descendo agora pernas abaixo.
Era uma noite de lua cheia, e ela, estava sentindo-se a Madona Lunar. A mulher não entendia muito de fases da lua, mas dessa lua que ali se mostrava no céu, ela sabia muito bem. Era uma lua redonda como se estive grávida. Isso era preocupação dos mais antigos, nesses dias de lua cheia ou grávida, como falavam, era a época de cuidados, pois os lobos estavam soltos e alvoraçados e eles costumavam a virar homens maus e agarrarem jovens ainda virgens e sedentas de paixão.
Mas, a mulher logo deixou de pensar nisso, pois ela não era mais nenhuma jovenzinha  virgem. Ficou a admirar mais o céu e o calor explorando todo o seu corpo. Não mais aguentando tanta quentura resolve banhar-se um pouco, olhou para os lados por fora da janela e percebeu que o quintal estava totalmente iluminado com a luz do luar, sendo possível aventura-se em um banho no banheiro, nos fundos da casa. Assim fez, deixou jogada no chão a fina camisola e saiu porta a fora em busca de refrescamento lunar. O banheiro era um pequeno quadrado e não tinha teto, sendo possível ver tudo o que acontecia ao seu redor, melhor assim, pensou ela, em uma fração de medo das histórias antigas. O chuveiro era feito de lata de leite de onde saia gotas de águas refrescante. Isso que era importante. Ficou os primeiros segundos se deliciando daquele frescor que percorria todo o seu corpo deixando a sensação de brisa matinal, apesar de ainda ser de madrugada. A lua estava lá revelando a hora e mostrando-se grávida e nua, sem vergonha ou medos.
Agora, a mulher já bebia da mesma fonte, fechou os olhos e delirando de prazer daquele momento integrou-se a paisagem. Ao passar o gasto e já sem cheiro sabonete por seu corpo sentiu que não estava mais só, sentiu um frio na espinha. Pensou; seria um bicho do mato? Um coelho, um gato, uma cobra, ou o danado do cachorro do vizinho que vivia implicando com o pobre de seu bom e companheiro jabuti? Era um cachorro feio, grande e mal encarado, por sinal nunca era visto com seu dono, e isso, fazia a vizinhança comentar, que um seria o outro, tudo bobagem de gente que não diz coisa com coisa. Ou será que seria seu vizinho? Não! Não podia ser ele, afinal, era um homem muito estranho, vivia quase escondido, as más línguas falavam que ele era envergonhado por ser um homem coberto por pelos e por isso tinha medo de se expor e ser repudiado, e que nem seu cachorro com ele saia. Viu? Não diziam coisa com coisa. Era um solitário. Ás vezes, ela o observava limpando o quintal, sempre com roupas que cobriam todo o seu corpo. Ele sempre abaixava a cabeça quando percebia que a mulher o observava.
Não! Não podia ser ele! E a sensação aumentou quando sentiu que era real, pensou em gritar, mas sua boca logo foi tapada por uma grande e peluda mão.
Sentiu falta de ar e uma leve tontura, mas não podia fazer mais nada, estava dominada e seu corpo tremia de medo. Sentiu o peso do braço e uns arfar em seus ouvidos, a respiração era quente e era sentida bem em seu cangote, aquilo a deixou apavorada, mas quietou-se e deixou apenas seu coração disparar. Era um misto de medo e prazer. Sim, prazer. Fosse o que fosse a estava tocando com cuidados e desejos. A mão grande e peluda continuava tampando sua boca e em suas costas sentiu algo como pelos grossos, ásperos a roçar em leves movimentos foi quando sentiu que a outra mão tentava separar suas pernas. Deu muito mais medo, mas sabia que mais nada podia fazer, e deixou o corpo mole, foi quando sentiu algo quente escorrendo entre suas coxas, uma mistura de calafrios quentes deixou seu corpo entorpecido e desmaiou. Quando voltou a si estava em sua cama, olhou para a janela e através da cortina viu um céu já sem luzes piscando, agora tinha uma leve palidez e a lua não mais estava ali.  
Tentou virar-se para ajeitar o corpo confortavelmente, já que o calor passara agora um sono débil chegava de mansinho, percebeu que estava nua, e envolta de se o lençol da cama totalmente revirado e manchado de terra molhada. Assustou-se, levantou-se de uma vez olhou para todos os lados e não viu a caixa de seu jabuti que dormia sempre ao seu lado. De repente ouviu um forte uivado, tremeu, sentiu medo, mesmo assim resolveu verificar através da janela o que estava acontecendo no quintal. Num lampejo de visão viu o cachorro do vizinho pulando a cerca do seu quintal e logo abaixo da cerca estava o seu jabuti de pernas para o ar.

 - Arre!- Desgraçado!- Enfim ele o pegou!

#Postagem, conto e desenho de Francisca Uchôa Souza