sexta-feira, 20 de março de 2015

Não posso

                                                          
Não posso mais ter o teu amor.
É pecado. É perigoso.
A luz do dia vai se apagando e junto tento deixar ir minhas lembranças.
A noite vem chegando.
Trazendo com ela a escuridão e o frio e a solidão.
Sento diante a lareira e espero o fogo pegar forte e assim começar a madeira estalar, começa a madeira a ficar avermelhada e o fogo cresce dando ao ambiente um clima aquecido.
Aquieto-me, fico serena, meu corpo começa a receber o calor do ambiente, meu coração finge estar bem, mas bem sei que isso não é verdade.
Olho para a porta e por debaixo dela por uma pequena brecha não vejo mais os últimos raios do sol que minutos atrás ali estava. É a noite que chegou. Não estou mais só. Encosto-me a cadeira e fecho os olhos, tua imagem logo se instala em minhas lembranças.
À noite me trás sempre de volta tuas lembranças, a saudade é fato, marca presença, sufoca.
Teu rosto marcado pelo cansaço do dia, as atribulações, o cheiro do teu corpo o som da tua voz que entra direto em meu coração e deixa-me totalmente dominada. É você, presente, marcado, em minha vida em meu nada.
Quando você sorrir (coisa difícil de acontecer) ouço no ar da sala sua gargalhada leve e às vezes malvada, mas que é sua marca registrada.
O cheiro do teu corpo é muito forte, sinto teu perfume que já faz parte muito tempo do teu viver, meu corpo fica inquieto ele sabe o poder disso tudo e algo surpreende acontece.
Entrego-me totalmente a essa alucinação e em um passo de loucura jogo-me no chão.
O silêncio é cúmplice e em vasta paixão nossos corpos se entregam em grandes movimentos de sofreguidão, tua boca quente envolve meu pescoço, teu corpo já toma conta totalmente do meu e rolamos no tapete da sala, escuto forte um estalo, assusto-me, abro os olhos e percebo que tudo não passou de uma louca ilusão. Você se foi, ficaram apenas as vivas lembranças.
Coisas de um coração cheio de solidão.
Olho em direção à porta e vejo que ela de alguma forma abriu deixando a mostrada o negro da noite, levanto e dou alguns passos em direção a essa escuridão, tenho a impressão que junto com ela você segura meu coração me esperando.
Só impressão, na verdade nada além de uma lua pálida no céu que começa a brilhar, ali estar.
As estrelas que em sua volta, estas não param de piscar.
Solto um profundo respirar, meu peito arfa em lentidão, a noite vai ser longa, bem sei disso e meu coração também, talvez por isso esse arfar de que  jeito não tem não.
Fecho a porta e volto a sentar-me na esperança de que num piscar de olhos volte novamente a sonhar. Amo-te e é com você que quero sonhar.

Texto, desenho e postagem de Francisca Uchôa Souza.