quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Religião, uma questão de escolha ou...Parte I


Seguia porque é assim, a gente tem que seguir a vida que segue. Quando falei que eu não acreditava mais em Deus, era me referindo ao Deus Bíblico e o Deus católico, para mim era demais e difícil acreditar em um Deus que uma hora amava e outra hora matava, castigava, destruía... Mas mesmo assim, lá em algum cantinho do meu coração da minha alma eu sabia que tinha alguma coisa errada e eu queria descobrir o que era eu precisa conhecer o Deus de amor, segurança, paz, construção, vida, soluções... Em 1991 eu fiquei grávida do meu filho mais novo, eu estava numa fase intensa além de mãe eu ainda tinha um pequeno atelier que funcionava em minha casa, eram dias cheios de trabalhos e problemas, mas eu conseguia conciliar tudo, às vezes para dar conta do trabalho ficava até de madrugada costurando.  Nesse tempo minha mãe faleceu e foi um choque, chorei, sofri e mais uma vez tive que me erguer e seguir, a vida continuava... E continuou, o tempo passou e a barriga cresceu e eu não podia mais dar conta de tanto serviço, tivemos que fechar o atelier (eu tinha uma sócia). Quando meu filho nasceu logicamente que o trabalho aumentou, pois a família crescera. Nunca eu abandonei minha fé, parece loucura, mas é assim mesmo, mesmo que não a creditasse em um Deus padrão eu acreditava que algo maravilhoso, superior, infinito, bom... E nesse Deus eu tinha fé, acreditava.
Quando meu filho já estava com alguns meses procurei a igreja que frequentava e falei que queria batiza-lo, nossa, foi o início de uma tortuosa luta, pois me disseram que eu não poderia batizar porque eu não era casada no religioso. Tentei dizer de todas as formas que eu era casada no civil e que já tinha quatro filhos batizados naquela mesma igreja. A briga foi feia, o padre disse que eu era uma pecadora e que meus filhos eram filhos do pecado. Um horror!
Juntei todas as fotos de batizados e primeira comunhão e voltei à igreja para mostrar ao padre, nada! Sai de lá triste, mas não desisti e fui procurar por outra igreja, foi pior porque quase causei um atrito interno de igreja para igreja, sai de lá chorando e sem rumo.
Então decidi ir a CNBB de Manaus, falar com a pessoa maior, representante das igrejas. Quando estive com o mesmo contei toda minha peregrinação, mostrei documentos e fotos, falei de minha vontade de batizar meu filho. Foi horrível, acredito que se fosse à época da Inquisição eu e minha família teria ido parar na fogueira. Sai de lá chorando e muito triste. Agora porque isso tudo? Só porque eu não era casada na igreja, e como meus outros filhos tinham sido batizados? Perguntei as minhas irmãs e elas não souberam me dizer, mas a verdade é que eles tinham sido batizados. Bom, fiquei com raiva e briguei com a igreja, por certo tempo eu deixei de ir rezar e comungar. Mas em casa eu fazia minhas orações e tinha aprendido uma oração linda na Seicho-No-Ie que ensinava a perdoar de coração e alma, eu fazia essa oração para obter êxito na convivência com minha sogra e demais familiares de meu esposo.
O tempo foi passando e quando foi em outubro de 1994 fui convidada por uma amiga a ir uma palestra no Centro Espírita O Bom Samaritano, ficava perto da minha casa. Eu fui!
Eu sempre que recebia convites de ir a qualquer igreja que fosse de outro credo eu nunca recusei, ia, via, escutava, observava e passava. Teve algumas que eu não gostei, pois gritavam em nome do Senhor e cantavam muito alto. Achei horrível, mas nunca comentei com a pessoa que havia me convidado. Ficava na minha, falava apenas em casa com os “meus”.

Fui à palestra e gostei. Fiquei tranquila, o local era simples, mas havia harmonia, ninguém precisava gritar ou colocar música alta, e o bom de tudo é que senti paz e a presença de algo maravilhoso que me contagiou tanto que resolvi voltar outras vezes.
Conversando com a pessoa que tinha me convidado fiquei sabendo de mais a respeito da “doutrina espírita”. Inteirei-me mais do assunto e decidi que eu iria mais vezes ali.
Um dia conheci mais intimamente outro centro e vi uma foto de um homem que estava em forma de retrato pendurado na parede e perguntei quem era, disseram-me que era Allan Kardec o codificador da doutrina espírita. Fiquei um pouco assustada, pois aquele rosto eu havia visto alguns meses atrás em um sonho que eu tivera no qual eu estava em frente a uma casa quando uma ventania começara e com ela vinha várias folhas de papel e revistas. Quando a ventania passara eu tinha aos meus pés vários papéis e revistas. Eu pegava uma e começava a folhear e numa das folhas eu via aquele rosto que me chamou atenção por ser um rosto de homem que mostrava uma masculinidade forte e expressiva.
Nunca mais esqueci aquele rosto e o sonho. Hoje sempre que vejo a foto de Alan Kardec me lembro do sonho e do meu propósito na vida. A vida seguia... E eu comecei a frequentar quase que diariamente as reuniões e palestras. Houve um período que participava da sopa fraterna e ia todos os sábados fazer sopa e distribuir para os mais necessitados. Foi uma época boa! Aprendi o que era ser solidário, conheci novas palavras e com elas comecei aprender a viver uma vida melhor. Eu estava maravilhada e conhecendo o Deus que eu acredito existir e ser.
Conheci novas pessoas, fiz novas amizades, comecei a levar meus filhos para lá, conversei sobre o assunto com meu esposo e disse o que estava acontecendo, ele também procurou conhecer e ver de perto o motivo da minha transformação. Eu já falei que eu não era fácil, mas também as coisas não eram fáceis pra mim, nada na minha vida que conquistei foi de graça.
É claro que minha transformação não foi da noite para o dia.  Ainda hoje sofro e sou cheia de defeitos. Mas o pouco que fui aprendendo e vendo que era bom eu ia colocando devagar em prática. Nossa, mais custou muito! Lembro que às vezes eu saia da palestra e antes de chegar em casa eu já tinha desarmonizado minha vida e tudo de ruim continuava.
A vida seguia, os filhos crescendo, os problemas também, eu deixará de ir à igreja, mas não esquecera nunca de rezar Pai Nosso, Ave-maria, Credo, acender uma vela se necessário, eu tinha e ainda tenho, um pequeno altar em cima de um móvel que eu herdara de minha mãe como também alguns quadros de santos e imagens e assim eu tinha construído esse altar, o catolicismo é minha religião de nascença, tem raiz fincada em mim. Lá sempre eu acendi uma vela, orava, (agora consciente de que só com merecimento que se conseguia os pedidos e que a vela é apenas um símbolo de luz) e conversava com o novo Deus que eu estava conhecendo. Rezava!
Texto e foto de Francisca Uchôa Souza – Continua...

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Balada das 13 casas


Luiz Bacelar#      

Balada das 13 Casas

São 13 casas unidas,

são 13 casas nascidas

no mesmo lance de rua,

com as mesmas paredes-meias,

os mesmos oitões de taipa,

a mesma fachada nua

e as mesmas janelas tristes

de 13 casas na rua.

Unidas? Bem... desunidas

nos problemas dos que habitam

suas paredes estanques;

mas juntas, pelo beiral,

pelos caibros de itaúba,

pelas telhas de canal

de 13 casas na rua.

E as famílias que moravam

(ainda algumas demoram)

nos tempos do berimbau?

Lembro: Cabelo-de-Fogo,

família Boca-Medonha,

a família Macaxeira

e a família Bacurau

das 13 casas da rua.

Das 13 só restam 11:

duas foram demolidas

pra dar lugar a um convento

de padres redentoristas

que, não contentes com isso,

de Tocos para Aparecida

mudaram o nome do bairro

das 13 casas da rua.

Numa delas eu vivi,

numa outra me criei,

e talvez venha a morrer;

quanto às outras, pelos donos

foram sendo reformadas,

gente próspera e "elegante"

como atestam as fachadas

das 13 casas da rua.

Apenas esta onde moro

de casa velha coroca

conservou a identidade

ainda usa arandelas,

calhas, tabiques, escápulas,

com manias e pirraças

de quem "viveu" outra idade

das 13 casas da rua.

Senhora Dona Donana

(Anna Henriqueta da Cunha),

ex-dona do quarteirão

irmão no estilo e argamassa,

a vós dedico e consagro

esta balada sem graça

em memória das antigas

fachadas, já derrubadas,

das 13 casas da rua.
#poema do livro “Frauta de Barro”, 1963. 


Postado por Francisca Uchôa Souza
  

domingo, 9 de setembro de 2012

Religião,uma questão de escolha ou...


                                 Religião, uma questão de escolha ou...
O assunto que pretendo escrever é algo que eu nunca gostaria de tratar pelos menos aqui, neste espaço. Mas senti essa necessidade pelo fato de eu precisar desabafar ou até quem sabe mostrar a quem interessa quem eu sou no âmbito da religião. Não que eu pense que isso vai mudar minha vida ou de alguém, ou que eu deva explicações ou desculpas sei lá mais o quê. É só mesmo uma necessidade minha àqueles que insistem em dizer ou pensar que eu estou errada, perdida, que vou queimar no fogo do inferno (eu já queimo em vida, moro em Manaus) que eu blá, blá, blá, eu e pessoas que talvez pensem como eu. E mais, não tenho nenhuma pretensão de pensar que esse meu depoimento é uma forma de alguma maneira “salvar, caminhar, buscar, encontrar caminhos...” eu fiz isso com os meus filhos, pois achei que era responsabilidade e compromisso meu com eles.  Bom, no fundo, no fundo mesmo, eu acho isso tudo uma grande besteira,  eu já estou  “cheia” dessa história de religião pra cá, religião pra lá. Continuo afirmando, “é uma grande besteira o fato de certas pessoas não aceitarem as outras como elas são”. Mas vamos lá! Eu nasci, fui batizada, ganhei como madrinha Nossa Senhora do Perpetuo Socorro, quando tinha sete meses quase morri de uma infecção intestinal e minha mãe entregou-me nos braços de N.S.P. S, “naquele tempo as pessoas faziam isso para salvar os seus, eles acreditavam fielmente nisso”, fiz primeira comunhão e só não casei na igreja católica porque meu pai não permitiu (eu estava grávida e na concepção dele aquilo era um pecado) casei só no civil. Enfim eu cresci em uma família católica, não tradicional, mas que honrava e colocava o máximo possível de seus preceitos em prática.
Fiquei jovem e sempre fui interessada por filosofias de todos os gêneros, sempre busquei o desconhecido, sempre questionei nunca me conformei só com uma explicação, sempre quis mais, nunca tive medo. Fiquei adulta, casei e continuei católica e em busca de outros conhecimentos, sem nunca sentir preconceito, medo, desconfiança. Tive meus filhos e todos eles foram batizados e levados à igreja. Com excersão do mais novo, que hoje tem 20 anos, (ele não foi batizado quando criança, mas eu o levava à igreja). E eu ia levando minha vida, indo à igreja e sentindo o tempo toda a necessidade de algo mais, mais...
Houve uma fase de minha vida que comecei a questionar certas coisas da vida que me incomodavam muito e eu na total falta de conhecimento espiritual achava um absurdo, eu ter o que comer, vestir, casa, corpo sadio... Mas como? Porque eu tenho e os outros não?
Não somos todos filhos do mesmo Pai, Deus? E eu seguia assim, questionando, brigando comigo mesma, até que eu comecei a pensar que não tinha nada de Deus. Éééé... Eu comecei a duvidar da existência de Deus. Aquele Deus que eu conheci na igreja, que a bíblia falava, falava, (eu também li a bíblia, hoje eu sei que ela deve ser estudada) o Deus que mostraram pra mim era bom, mas que matava, um Pai Generoso, mas que abandonava um filho diante de um assassino, um Deus que até seu filho escolhido, Ele abandonou! Mas afinal que Deus, Pai era este? Eu estava pirando, mas seguia com minha vida, acreditando que nunca ia ser abandonada por esse Pai, que de alguma forma eu não merecia castigos ou queimar no inferno se de repente eu morresse.
E eu continuava indo, vindo, das igrejas, católicas. Então comecei a visitar outros lugares, visitei a SEICHO-NO-IE, e lá aprendi de verdade a orar, que não devemos pedir implorar ou suplicar algo a Deus. Deus é “Lei absoluta do Universo” e nós não podemos mudar essa lei.
Isso não quer dizer que a oração não deve ser feita, a oração é uma ação que praticamos para nos estabelecer contato pessoal com Deus, pois assim nós nos sentimos uma unidade com Ele. Quando oramos despertamos nosso “Deus interior” e sintonizamos com “Deus que rege o Universo”.  Se for do nosso merecimento e nossa mente vibrar com as vibrações de amor divinas de amor e bênçãos que preenchem o Universo, somos abençoados por Deus. Fiquei maravilhada com as palestras, ensinamentos e a necessidade de coloca-las em práticas e passei a frequentar as palestras, mas continuei indo a igreja e nunca tentava fazer ou divulgar o que eu estava vivendo no sentido de “catequizar, doutrinar, firmar verdades...” Eu comentava e sempre que alguém me perguntava o endereço eu passava sem expectativas de achar que eu estava “salvando alguém do inferno ou perdição”.
Lembro que foi uma época bem difícil de minha vida, filhos pequenos todos estudando, marido vivendo uma fase de trabalho intenso, amizades, bebidas e outras coisas mais que eu sofria, mas não perdia a esperança a fé de que um dia aquilo tudo fosse acabar. E continuava na minha vida de mãe e tudo o que se pode fazer pra ver os seus felizes. Eu também não era fácil e não facilitava pra quem atravessasse meu caminho querendo me derrubar. Eu tinha problemas seríssimos com a família de meu esposo em especial minha sogra.
Eu tinha alguns defeitos graves, fumava, bebia às vezes (nunca pra cair) tinha o pavio muito, muito curto e gritava asneiras. Às vezes castigava meus filhos, falava palavrões e gostava de sair para alguns lugares que não eram mais adequados para mim, (olha a imaginação hein gente!) Na verdade eu era uma pessoa que vivia brigando com o mundo e algumas vezes magoei pessoas que eu amava e que me amava também. Sentia-me só! Naquela época Deus não era suficiente para preencher a lacuna que tinha entre mim e meu esposo, que amava e sempre amei. Chorava, morria todo dia um pouquinho por dentro, mas seguia...
Continua...
Escrito, postado e foto de Francisca Uchôa Souza.