segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Balada das 13 casas


Luiz Bacelar#      

Balada das 13 Casas

São 13 casas unidas,

são 13 casas nascidas

no mesmo lance de rua,

com as mesmas paredes-meias,

os mesmos oitões de taipa,

a mesma fachada nua

e as mesmas janelas tristes

de 13 casas na rua.

Unidas? Bem... desunidas

nos problemas dos que habitam

suas paredes estanques;

mas juntas, pelo beiral,

pelos caibros de itaúba,

pelas telhas de canal

de 13 casas na rua.

E as famílias que moravam

(ainda algumas demoram)

nos tempos do berimbau?

Lembro: Cabelo-de-Fogo,

família Boca-Medonha,

a família Macaxeira

e a família Bacurau

das 13 casas da rua.

Das 13 só restam 11:

duas foram demolidas

pra dar lugar a um convento

de padres redentoristas

que, não contentes com isso,

de Tocos para Aparecida

mudaram o nome do bairro

das 13 casas da rua.

Numa delas eu vivi,

numa outra me criei,

e talvez venha a morrer;

quanto às outras, pelos donos

foram sendo reformadas,

gente próspera e "elegante"

como atestam as fachadas

das 13 casas da rua.

Apenas esta onde moro

de casa velha coroca

conservou a identidade

ainda usa arandelas,

calhas, tabiques, escápulas,

com manias e pirraças

de quem "viveu" outra idade

das 13 casas da rua.

Senhora Dona Donana

(Anna Henriqueta da Cunha),

ex-dona do quarteirão

irmão no estilo e argamassa,

a vós dedico e consagro

esta balada sem graça

em memória das antigas

fachadas, já derrubadas,

das 13 casas da rua.
#poema do livro “Frauta de Barro”, 1963. 


Postado por Francisca Uchôa Souza
  

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