quinta-feira, 4 de abril de 2013

Uma história com a ópera em atos.

II ato.
O meu pai tinha um comércio que funcionava das 06h00min da manhã até às 20h00min, mas todos os dias quando dava 18h00min ele levantava o som de um belo rádio que ele tinha em uma de suas prateleiras de mercadorias e eu ficava fascinada com a música que de lá saia juntamente com a voz do locutor que dizia: “em Brasília, dezenove horas” e no fundo de sua voz ecoava uma bela melodia, forte, alta, vibrante, inesquecível, um dia muito mais lá pra frente descobri que se tratava de o Guarani obra de Carlos Gomes e que um dia também muito mais para frente eu comprei o álbum em forma de disco compacto e muito mais tarde assisti a ópera já no Festival Amazonas de Ópera, em todos esses momentos vividos depois de minha infância quando ouvia o Guarani minha vida era remetida imediatamente a minha infância, brincando junto à calçada do comércio do meu pai e ele me dizendo depois da abertura do programa a Voz do Brasil “Francisca, está na hora, suba e vá tomar banho”. Nunca imaginei que um dia iria descobrir o poder da música e das lembranças. 
O tempo passou, cresci um pouco mais agora já tinha 10 anos e agora eu gostava muito de ler, eu aprendera o gosto da leitura, lia de quase tudo, gibis do meu irmão, às vezes ele brigava comigo porque eu tirava as revistas das posições que ele colocava, mas também me dava alguma nova que ele conseguia. Nessa época eu frequentava a escola particular de Dona Maria Rosa e frequentava sua casa em outras horas. Dona Maria era casada como Sr. Vieira os dois não tinham filhos e eu mais vez fui recebida naquela casa com mimos. Tinha outra menina que também frequentava a casa era a Maria da Luz. Mas era comigo que dona Maria ia receber todo final de mês seu salário de professora. O Sr. Vieira não gostava que dona Maria lesse umas revistas que ela gostava; Sétimo Céu, Capricho, Grande Hotel e outras. Todas às vezes que a gente saía ela comprava várias delas incluía também Tio Patinhas, Pato Donald, Recruta Zero, Bolinha, Luluzinha, Brotoeja, Riquinho... Nossa, que saudades, parece nesse instante que foi ontem. Naquele tempo também não havia bancas de revistas como hoje, todas eram compradas em livrarias como a Colegial, Acadêmica, Brito, as revistas eram enroladas e amarradas com fio barbante. Saudade!
Quando voltávamos, antes de chegarmos a casa dela ela sempre me dizia, “Leva as revistas para sua casa, lê as que você gosta e quando o Sr. Vieira não estiver em casa você trás pra mim”. Assim eu fazia. Eu era cúmplice dela em um segredo literário, interessante.
Assim aprendi a gostar de ler além de minhas revistas infantis, lia também as dos adultos que eram as fotonovelas. Lembro que foi nessa época que aprendi (ou adquiri o hábito) a cheirar os livros, as revistas tinham um cheiro gostoso. Mas gostoso era ler o que nelas tinham, histórias. A revista Grande Hotel era a mais interessante trazia histórias de amor, aventura, suspense, medo... Contava histórias bonitas e nelas eu li, Hobby Hood, Ivanhoé, O Príncipe Valente, Sansão e Dalila, Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, Carmem, Guilherme Tell, O médico e Monstro, O Morro dos Ventos Uivantes... E tantas mais que não serei possível lembrar, talvez as mais marcantes é que ficaram, aqui, ali quando vejo algo que me remete para lá, eu lembro. Fui muito feliz na infância. Eu lia e não entendia muita coisa, mas sei que eram histórias cheias de glória, luta, amor, valentia, medo, justiça e injustiça também. Hoje eu sei o que era, conhecimento, cultura, vida. E assim a ópera através da leitura foi inserida em minha vida sem eu saber que mais tarde eu veria, ouviria e sentiria tanta emoção vendo uma história sendo contada em cantos. Essa foi a segunda vez que entrei em contato com a ópera. Marcou. Obrigada dona Maria Rosa! Continua...
Texto de Francisca Uchôa Souza, fotos também.
Foto que consegui fazendo pesquisa no Google,copiei e montei.

Foto tirada do encarte que tenho de lembrança da apresetação.


Disco álbum que comprei em 1995.

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