segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Sete gatos pingados..

Escrever sobre esse assunto é um tanto complicado pra mim. Até agora fico um pouco constrangida e decepcionada. Já se passaram alguns meses desde o dia que o fato aconteceu, fiz de tudo para esquecer, até fingi que era mais uma dessas histórias que você escuta em fila de banco ou nas salas de consultórios médicos. Essas histórias sempre são com outras pessoas e você apenas fica sabendo. Mas que nada, o tempo passou, mas a decepção não. Então resolvi colocar no papel, ou melhor escrever como uma forma de desabafar, quem sabe assim logo passa e eu esqueço que participei e mais uma vez aprendi que “de perto ninguém é normal”. Ou melhor, não somos deuses (mesmos as pessoas que acham que são).
Tudo começou quando decidi participar de uma palestra sobre Literatura Amazônica que seria proferida por um escritor bastante conhecido até mundialmente, tendo várias obras publicadas e algumas até transformadas em sucessos de televisão.
Fiquei entusiasmada com a oportunidade de ouvir sobre literatura que é um assunto que tanto gosto, ainda mais com uma pessoa que eu pensava que era “cabeça pensante “sendo assim, sem preconceitos e arrogâncias.
A loja que estava promovendo o evento é uma loja bem conceituada no mercado de nossa cidade e sou cliente já de longa data, sempre promove vários eventos. Fiz a inscrição e recebi a resposta positiva para participar e fiquei na espera do grande dia.
Lembro que a data concedia com uma consulta medica minha e eu tratei de logo resolver este problema (mudei a consulta), fiquei esperando a palestra com ansiedade.
O dia chegou!Arrumei-me e fui para o Shopping toda feliz, pensando em adquirir mais um pouco de conhecimento e conhecer mais algumas pessoas. Cheguei um pouco cedo pra poder conhecer o ambiente onde seria a palestra. Aproveitei e fui ver livros na loja e comprei até um.
O tempo começou a passar e percebi que não chegava mais gente e nem o palestrante. O tempo lá fora estava chuvoso (vai ver é isso – pensei).
Depois de mais um tempo olhei o relógio e nada, nem mais pessoas e nem palestrante. Quando já havia passado quase uma hora, o palestrante chegou. Eu estava sentada juntamente com as outras seis pessoas (isso, éramos sete pessoas, parece conta de mentiroso, mas é verdade) e vi claramente o ar de decepção dele (o escritor) e também notei que ele fechou o semblante (mais ainda, pois no real ele tem o semblante bem fechado).
Eu sabia quem era o escritor, uma senhora ao meu lado comentou:
- Será que ainda vai ter palestra?
- O escritor ainda não chegou!
- A senhora já viu ele? -perguntou a senhora dirigindo-se a mim.
E eu respondi a ela que ele já havia chegado. Ela ficou quieta e calou-se.
Ele (o dito escritor) ao adentrar a sala, foi recebido pela moça que o aguardava e estava organizando o ambiente juntamente com o rapaz do som e imagem.
Foi quando comecei a escutar uma conversa que jamais imaginei que iria ouvir. O escritor começou a reclamar que não tinha “ninguém” para recebê-lo. Questionou a ausência do gerente da loja e que ele (o escritor) não iria falar pra um punhado de “gatos pingados”.
Disse pra moça:
- Minha filha, você sabe quem eu sou?
- Você sabe pra quantas pessoas eu já falei?
- Eu já viajei pra a Europa, Estados Unidos, o mundo quase todo.
E repetiu - “não vou perder meu tempo aqui”.
Nossa! Foi um babado fortíssimo, fiquei arrasada e passada com toda aquela cena. Tem mais, ele não falou baixo e nem teve critérios de ética. Quando o celular dele tocou e ele atendeu falou com a pessoa e disse que estava em tal lugar pra fazer uma palestra, mas que ele não ia perder tempo com “sete gatos pingados”. E falando aborrecido disse: - Vou embora!
E foi! Saiu e não disse nada. Não se despediu, nem deu uma explicação para nós, “sete gatos pingados”, mas que estavam ali pra conhecê-lo, aprender e quem saber tornar seu seguidor nas leituras. Eu fiquei ruim. Sabe quando teu mundo vem abaixo. Pois é, foi assim pra mim. Veja bem, eu não estou super valorizando o escritor e subestimado a nós, que ali se encontravam e esperávamos passar uma boa tarde.
Afinal, não tínhamos culpa de nada e sofremos aquela humilhação e desprezo.
Bom, todos foram embora. As outras pessoas (que eram pessoas de mais idade, senhores e senhoras) não disseram nada houve só comentários entre eles.
Eu saí da loja triste e com um gosto amargo no estômago (fiquei enojada). Desci o primeiro lance das escadas, mas minha cabeça fervilhava, eu não achava aquilo certo alguém tinha que saber do ocorrido e fazer algo. Voltei à loja e peguei uns papéis para registrar o fato.
Enquanto eu registrava o gerente da loja apareceu e conversou comigo. Eu desabafei e pedi que a loja tivesse mais cuidado com os eventos promovidos por ela. Ele desculpou-se e falou que deixasse a queixa registra na caixa de sugestão da loja. Eu deixei.
Lição que tive com isso, DE PERTO NINGUÉM É NORMAL.
Eu sei que o escritor é SER HUMANO como qualquer um de nós, só que ele que se diz uma pessoa viajada e que já falou pra CENTENAS E CENTENAS de pessoas, teria que ser uma pessoa equilibrada e ética. Em minha opinião quem fala pra mil, fala pra cem, fala até pra “SETE GATOS PINGADOS” e seria respeitoso com eles. Foi o que faltou. Respeito.

Texto de Francisca Uchôa Souza


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