terça-feira, 21 de junho de 2011

Acertando na lata com a lata.

Estava eu hoje passando por uma das pequenas pontes que liga um lado da rua com a outra no Prosamim na Cachoeirinha próximo o bairro da Raiz, quando percebi essa cena bastante singular naquele local. Um canoeiro remando naturalmente e recolhendo latas de bebidas.
Fiquei emocionada e ao mesmo tempo achei uma cena incomum para os dias de hoje, ali naquela parte do igarapé da Cachoeirinha.
A emoção era por ver que ele estava recolhendo latas de bebidas, que são jogadas por pessoas que moram ou frequentam os arredores no fim de semana. Talvez seja uma atividade que lhe dê algum tipo de renda e assim sobrevive.
Mesmo assim ele está fazendo a sua parte, limpando a sujeira de uns e com certeza nesse ato a natureza que tanto sofre é mais beneficiada e agradecida. Que bom que tem ainda pessoas que mesmo precisando e necessitando faz a sua parte.
Enquanto voltava para casa lembrei-me do tempo em que fui criança e ali naquele mesmo igarapé com outro aspecto e nivelação do seu curso d’água eu e minhas irmãs e os vizinhos iam-nos pegar água (a água só chegava de madrugada, não mudou muita coisa, não, para alguns). Nossa, era uma festa para os “pequenos” os adultos carregavam as latas e panelas cheias de água enquanto as crianças brincavam na água corrente e cristalina (ainda naquele tempo, início dos anos 60). Tentávamos pegar minúsculos peixinhos que passavam por entre nossos pés infantis. Senhoras mais velhas lavavam roupas e usavam as grandes pedras que ali tinha (algumas resistiram o tempo e ainda estão lá) para bater roupas. Tinha várias cacimbas em volta e bastantes árvores, pés de açaí, pupunha, buriti e outras espécies.
Sempre que lembro aquele tempo chego a ouvir o barulho das vozes, roupas sendo batidas nas pedras e o barulho das folhas das árvores sendo sacudidas pelo vento que causava um bom e maravilhoso frescor em nossos corpos de crianças que muitos estavam apenas vestindo calcinhas ou shorts sem blusa (hoje é perigoso uma criança andar assim) e sentiam frio.
Sempre vivo essas cenas de lembranças já que agora moro perto do igarapé da Cachoeirinha que divide o bairro do mesmo nome (onde nasci e me criei) e o bairro da Raiz. Tempo bom, que eu sei que não volta nunca mais, mas estar guardado comigo para sempre. Foi bom.

Texto e foto de Francisca Uchôa Souza

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