quinta-feira, 11 de outubro de 2012

A coluna - Final


Estávamos no Mundo Inferior. Sim, no Mundo Inferior, era assim que se chamava aquele lugar, eu já ouvira falar, mas eu pensava que era tudo um absurdo, não poderia existir tal lugar. Como poderia aquilo existir, éramos uma civilização com problemas ambiental e de espaço, mas tínhamos uma boa tecnologia uma avançada medicina que nos permitia termos quase que uma vida sem problemas de saúde. Eu não acreditava que diziam que as pessoas que nasciam com problemas anormais de saúde eram jogados neste mundo juntamente com aquelas que não pagavam seus tributos para o Governo, ladrões, criminosos. Não! Aquilo tudo era um grande equívoco ou eu estava tendo um grande pesadelo.
Logo descobri que eu estava enganada, que realmente aquele lugar existia e tudo mais que falavam dele, tanto prova, que eu estava lá com os meus filhos vivendo aquele pesadelo acordados. De repente, vultos pararam diante de nós e pude ver nitidamente que eram pessoas com modos rústicos quase selvagens, nos puxaram de cima da plataforma e com gestos de admiração, medo, espanto, sabe lá, nos empurram e ficaram nos observando um pouco de longe fazendo gestos, nos analisando. Todos eram sujos demais e fedorentos como também feios, alguns com defeitos físicos, alguns faziam sons que viam da boca, mas não demonstravam que eram violentos. Engano meu, de repente um deles pulou sobre mim e arrancou meu pequeno filho do meu colo que gritava e chorava, meu filho mais velho tentou tomá-lo, mas foi logo segurando por outro que também demonstrou sua fúria. Quando o outro se aproximou de mim para dominar-me ouvi uma voz grossa que vinha do meio deles, passando por meio de todos eu vi um homem de porte atlético e com uma altura bem maior dos que ali estavam. Aproxima-se dos que estavam tentando me agarrar, quando eles percebem que não estão mais sós se retraíram com as cabeças baixas afastaram-se de mim rapidamente. Este homem não tinha nenhuma anomalia e era até um homem bonito. Depois fiquei sabendo pelo sujeito que me salvara que realmente estávamos no Mundo Inferior, e que aquelas colunas nas casas das pessoas serviam para jogarem realmente resto de todo lixo, assim o governo resolvia um problema com outro problema, à fome das pessoas que ali habitavam. Disse que o governo escondia do Supremo tudo aquilo. Para o Supremo éramos uma Nação perfeita e harmoniosa, assim o governo conseguia receber cada vez mais créditos e confiança para expandir cada vez mais seus projetos de um dia chegar ao lugar do Supremo e comandar tudo sozinho. O governo tinha corrompidos quase todos do Supremo os que não faziam seu jogo, era morto, silenciado, trancado.
Fiquei revoltada e procurei saber por que aquele homem que aparentemente não tinha nenhum defeito físico e mental estava ali. Ele disse-me que descobrira tudo e que inclusive conhecera meu marido, que meu marido também sabia de tudo, mas que não tinha sido mandado para baixo, como ele, por causa da família e dos projetos que ele fazia na realidade, meu marido estava sendo chantageado.
Meu marido sofria ameaças de perder toda família, o governo dizia que mataria a mim e as crianças. Fiquei mais uma vez revoltada, pois eu carregava a culpa de minha família ser presa e infeliz, meus filhos não frequentavam escolas e lugar nenhum, eu achava que tínhamos sidos presos por causa de minhas manifestações contra a forma que o governo distribuía oxigênio e água. Senti culpa por muito tempo. Só agora eu entendia porque a passividade de meu marido e porque ele não levava seus projetos e sempre ia para casa acompanhado de segurança do governo, não era pra sua proteção como me dizia e sim para vigiá-lo. Ele não podia dizer nada pra mim, pois éramos como já disse monitoradas vinte quatro horas todos os dias. Agora era preciso sair dali ou viver para sempre naquele local quase escuro com pouquíssimo ar e com sobras de alimentos vindas de cima. Passaram-se alguns dias. Meus dois filhos com problemas respiratórios começaram a ficar mal, tossiam muito e viviam respirando muito lentamente, estavam já muito cansados. Até que um dia eu consegui convencer o meu novo amigo que deveríamos tentar sair dali e continuar nossa luta. Pedi que meu filho mais velho ficasse com os irmãos até eu voltar.
Conseguimos subir pela plataforma que ia até certa altura o restante do trajeto tivemos que fazer nos arriscando, corríamos o risco de sermos cozidos pelos vapores que de minutos e minutos saiam de pequenos orifícios. Quando chegamos a uma das entradas que tinha pelo caminho, abrimos e vimos que estávamos de novo no Mundo de Cima, a superfície. A sensação era muito boa, lembro que fiquei feliz, mas nesse exato momento eu acordei. Senti-me aliviada e feliz de ver que tudo aquilo tinha sido um grande e longo sonho ou pesadelo. Mas ao mesmo tempo senti saudades e tristeza. Até hoje eu continuo sentindo tristeza e saudades, gostaria muito de poder voltar lá e vir como tudo realmente terminou, sinto saudade da minha família e principalmente de meu marido e claro do meu amigo que me trouxe para o mundo real. A sensação que tenho é que deixei de realizar algo muito importante, necessário.
Nota: Este sonho foi em 1994. Em 1997 eu adquiri pela primeira vez um aparelho conhecido como Bipp. Era um aparelho de comunicação, recebia e mandava recados. Tinha uma luz verde e vermelha. A roupa que eu usava no sonho, vi depois em um filme de ficção, as cobertas que cobri meus filhos no sonho, hoje são usadas em pacientes acidentados pelos paramédicos. Nosso planeta Terra está passando por transformações, nossas árvores estão morrendo ou sendo destruídas, vivemos num mundo de reality show, os governos nos observa vinte quatro horas, nossos rios estão secando, nossa água potável está correndo sério risco de acabar e em alguns lugares é quente demais em outros frios. E o oxigênio? O que será que vai acontecer?
Texto de Francisca Uchôa Souza.

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