quinta-feira, 11 de outubro de 2012

A coluna


A Coluna
Manaus, 14 de Março de 1994.
Ontem  tive um sonho que se fosse contado para um bom roteirista de cinema, daria um bom filme. Um filme de ficção futurista. Eu sentia que tinha sido um sonho bom, do qual tinha certeza, nunca iria esquecer sempre que lembrasse, teria saudade. Saudade de algo que parecia ter vivido de verdade. Será que realmente fora só um sonho? Quem sabe?Tudo se passava em outro planeta. Muito diferente e avançado que o planeta Terra. Eu era casada e tinha uma família grande (como na realidade) marido e cinco filhos. Meu marido era alto, branco, cabelos loiros, olhos azuis, porte atlético, (bem diferente do meu marido, que é de estatura média, moreno, cabelos e olhos escuros) uma pessoa pacificadora, amável, apaixonado pela família (o da vida real também é).
Todos os meus filhos se pareciam comigo (eu era morena, cabelos negros, lisos e compridos, os olhos negros e amendoados). O meu filho menor, era o único que parecia com o pai. Éramos felizes, na medida do possível, pois vivíamos presos em nossa própria casa. O motivo é que eu era uma Revolucionária. E por minha causa estávamos presos. Tínhamos tudo dentro de casa desde o luxo, conforto, alimentação, remédios e o mais importante, oxigênio. Sim, oxigênio, era um elemento vital para todos naquele planeta. Os menos abastados pagavam um preço muito alto para ter oxigênio, mas se caso não pudessem pagar pelo produto teriam que trabalhar de graça para o Governo e assim teriam o precioso produto e em cotas baixas. Era por isso que eu brigava, não achava justa a cobrança de algo que fora colocado de graça por Deus no mundo e por falta de responsabilidades de todos nós, agora sentíamos na pele, ou melhor, nos pulmões, a consequência da falta do produto. Tinha hora e lugares específicos para fornecer. Pela cidade eram espalhados grandes dutos que dependendo do horário abriam-se e jorravam certas quantidades de oxigênio pequenos minutos. Quem fosse esperto aproveitava e curtia aquele momento, depois era viver com uma grande dificuldade de respirar, a população era imensa. Era terrível um caos total. E mesmo trabalhando em um órgão do governo eu não aceitava aquela situação, então criei o Comando Oxigênio para Todos. O interessante é que não me lembro de ter visto no sonho, animal de espécie nenhuma. A água também era absurdamente controlada. Quando a segurança do governo soube que eu vivia fazendo reuniões para alertar as pessoas, de que era um absurdo a taxa que era cobrada das pessoas pelo o oxigênio e que elas não podiam doar nem um pouquinho para as outras que não podiam pagar e que deveríamos fazer algo contra isso, assim estabelecer uma nova situação em nosso planeta, eles não perderam tempo, começaram a caçada fazendo interrogatórios chegaram até a mim. Não foi possível esconder as evidências, então prenderam a mim e toda a minha família. Não adiantava eu dizer que minha família não participava do movimento, eles não acreditavam. Mesmo não participando, meu marido  me apoiava, dava-me conforto moral e segurança. Mesmo assim não fora perdoado. Ele particularmente não gostava que eu me envolvesse com os problemas políticos de nossa cidade. Mas lembro de que eu era uma pessoa valente, forte e muito, muito, questionadora, decidida em minhas opiniões e decisões.
Lembro também de nossas roupas, principalmente da minha eu usava um macacão de cor cinza metálico era um material tipo um vinil, era bem colado ao meu corpo. Lembro também do detalhe da frente. Era do mesmo material, só de cor preto,  um símbolo de formato de raio. Também usava botas da cor do macacão e com o mesmo detalhe preto. Na minha cintura usava um aparelho, um aparelho pequeno quadrado e que sempre que alguém queria se comunicar comigo ele emitia um som e acendia uma luz verde. Ao mesmo tempo esse aparelho servia para me rastrear, minha família toda usava o mesmo tipo de aparelho. Nossas roupas também eram iguais.
Nossa casa era de um padrão rico, apesar disso não havia luxo exagerado. As janelas e portas eram de um metal fino, mas muito resistente todas tinham fechaduras eletrônicas e com códigos. Tudo controlado pelo governo. Mesas e cadeiras eram de vidros grossos e inquebráveis. Eu vivia o tempo todo tentando descobrir uma forma para escapar, eu era revoltada e lutava pela liberdade. Um dia eu consegui descobrir o código da porta e juntamente com meu marido e filhos, conseguimos fugir. Só que no meio do caminho somos descobertos e para não colocarmos nossos filhos em perigo decidimos voltar. Uma pequena guarda veio em nosso encalce e acabamos por travar uma pequena batalha. Os guardas com suas armas que disparavam um fino jato tipo laser e nós usamos as peripécias de correr de um lado para outro assim conseguimos voltar novamente para casa salvos. Agora eu sabia que a vigília seria maior e de alto risco, tínhamos quebrado mais uma vez um código que eles consideravam de alto valor em segurança e perdemos por completo toda confiança e passaríamos agora a sermos inimigos do governo, nível Perigoso.
Antes que a porta fechasse novamente, com um novo código, meu marido que entrara por último decide, por razões que eu desconheço voltar e enfrentar a guarda, por causa dessa atitude ele leva um tiro que é fatal. Mesmo ferido ele ainda consegue chegar novamente em casa e ir para o nosso quarto, nosso filho menor estava deitado em nossa cama, não percebi quando ele saiu de perto de mim, quando viu o pai ferido corre ao seu encontro meu marido o pega nos braços e se deita junto com ele. Meu filho chora, mas meu marido já não pode fazer nada, apenas tira a aliança de seu dedo e tenta entregar a ele, nesse exato momento ele morre e seu corpo é totalmente desintegrado diante dos olhos do nosso pequeno menino que fica apavorado gritando pelo pai sem entender o que acontecera. Eu assistia tudo isso de outra sala por um monitor de TV, nossa casa era toda monitorizada pelo governo, éramos observados vinte e quatro horas todos os dias, não tínhamos paz e privacidade.
No momento que isso acontece com o meu marido, nossos outros quatros filhos estão comigo e também assistem tudo, apavorados choram muito a perda do pai eu não consigo sentir nada ou chorar, apenas penso em sair de lá e ir buscar o menor. Peço aos outros que fiquem quietos e verifico se estamos sozinhos e caminho em direção ao quarto ao passar pela porta central vi que ela já estava com um novo código, agora com uma luz vermelha piscando o tempo todo, aquilo significava que aquela zona era de perigo e inimiga, todos ficariam sabendo disto. Quando percebi que estava sem perigo corri e entrei no quarto, jogando-me na cama para pegar meu filho, antes de sair procurei pela aliança de meu marido e vi que ela caíra no chão perto da parede. Abaixei-me, já com o nosso filho no colo, peguei a aliança, mas antes de coloca-la no dedo lembrei muito rápido de tudo como acontecera em nossas vidas, nosso primeiro encontro, nosso casamento nossos filhos e nosso ideal de uma vida melhor pelo bem de todos, até o dia que escolhemos nossas alianças, que tinha o modelo quadrado e dentro tinha o desenho de dois triângulos entrelaçados, nosso símbolo de amor e união.
Texto e fotos de Francisca Uchôa Souza. Continua...

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